Uma equipa internacional de cientistas, liderada por investigadores da Universidade Hebraica de Jerusalém, da NASA, do Instituto de Tecnologia da Florida, do Centro de Supercomputação de Barcelona e da Universidade de Oxford, descobriu uma ligação entre erupções solares — explosões repentinas de radiação emitidas por estrelas — e alterações de curto prazo nos padrões meteorológicos de planetas semelhantes à Terra.
O estudo, publicado na revista The Astronomical Journal, fornece as provas mais claras até hoje de que o chamado “clima espacial” — em particular as erupções das estrelas hospedeiras dos planetas — pode provocar mudanças mensuráveis no clima de um planeta apenas dias após o fenómeno. Estas conclusões oferecem pistas importantes sobre a habitabilidade dos exoplanetas e podem até ajudar a refinar a forma como compreendemos as variações atmosféricas de curto prazo na Terra.
“Este estudo destaca uma ligação solar-climática pouco explorada, mas importante”, afirmou Assaf Hochman, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade Hebraica. “Embora os gases com efeito de estufa de origem antropogénica sejam os principais impulsionadores das alterações climáticas a longo prazo, agora vemos que a variabilidade solar de curto prazo também pode desempenhar um papel na modulação do comportamento climático regional.”
A equipa, composta por especialistas como Assaf Hochman, Howard Chen, Paolo De Luca e Thaddeus D. Komacek, recorreu a modelos climáticos 3D de circulação geral altamente avançados para simular como as erupções solares afetam o clima em exoplanetas sincronizados com as suas estrelas, como é o caso do TRAPPIST-1e — um planeta que apresenta sempre a mesma face ao seu sol.
As simulações revelaram uma cadeia de reações surpreendente:
- Arrefecimento rápido da alta atmosfera após uma erupção, provocado pela emissão de radiação por moléculas como o óxido nítrico (NO) e o dióxido de carbono (CO₂);
- Aquecimento simultâneo das camadas mais baixas da atmosfera, devido ao aumento de gases com efeito de estufa como o vapor de água (H₂O) e o óxido nitroso (N₂O);
- Intensificação dramática dos ventos na atmosfera média, com velocidades superiores a 140 km/h no lado escuro do planeta.
E o que isto pode significar para a Terra?
Embora o foco principal do estudo tenha sido em planetas distantes, as implicações para o nosso próprio planeta são significativas. Os padrões observados sugerem que a atividade solar pode alterar temporariamente a circulação geral da atmosfera de um planeta. Não se trata de mudanças climáticas a longo prazo, mas sim de anomalias regionais e transitórias — do tipo que se pode tornar particularmente visível em zonas onde o clima já é naturalmente instável.
A investigação sublinha que, embora as erupções solares não sejam os principais motores do clima terrestre a longo prazo (comparadas com as atividades humanas), os seus efeitos são reais, detetáveis e devem ser considerados nos futuros modelos atmosféricos. Isto é especialmente relevante para regiões sensíveis a alterações súbitas de temperatura e vento.
O estudo também reforça a ideia de que as estrelas não se limitam a aquecer os seus planetas — podem também influenciar o seu clima de forma ativa e imprevisível. Compreender estas interações é crucial para avaliar que exoplanetas poderão realmente reunir condições para sustentar vida.
Este trabalho multidisciplinar envolveu especialistas em modelação astroclimática, química atmosférica e ciência planetária, com o apoio de instituições de quatro países e de vários centros de investigação da NASA. Os resultados não só aprofundam o nosso conhecimento sobre mundos distantes, como também podem contribuir para melhorar a nossa capacidade de prever e responder a influências solares aqui na Terra.