O Oceano Atlântico Norte tem uma memória entre 10 e 20 anos, ultrapassando significativamente as estimativas anteriores, que rondava entre os 8 e os 10 anos
A memória é algo que preocupa os humanos e que se vai perdendo com o passar dos anos. Muitas recordações se esvanecem. No entanto, o oceano parece ter boa memória. A forma aquática de memória refere-se à persistência das condições oceânicas e da capacidade dos oceanos reterem determinadas condições ecológicas. Além disso, é uma importante fonte de previsibilidade no sistema climático, no sentido em que uma representação incorreta poderia alterar os modelos atuais e as previsões para o futuro, à medida que o mundo aquece. Porém, a dificuldade em identificar a memória dos oceanos deve-se ao facto de as alterações contínuas das forças atmosféricas — ou seja, as mudanças na atmosfera afetam a modelação da terra e do mar, acabarem por mascarar os efeitos a longo prazo da circulação oceânica.
Para ajudar a esclarecer esta questão, cientistas da universidade de Liverpool resolveram tentar responder a uma questão fundamental: “durante quanto tempo o oceano se lembra?”A resposta foi publicada na revista Geophysical Research Letters, onde a equipa de investigação esclarece que afinal o Atlântico Norte recorda-se de mais do que se pensava: entre 10 e 20 anos, o que é muito superior às estatísticas anteriores que estimavam entre oito e dez anos. De acordo com a SciTechDaily, a dificuldade em identificar a memória dos oceanos deve-se ao facto de as mudanças contínuas nas forças atmosféricas ocultarem os efeitos a longo prazo da circulação oceânica.
Hemant Khatri, da Escola de Ciências Ambientais da Universidade de Liverpool e principal autor do artigo, afirmou num comunicado de imprensa: “O estudo aborda uma questão fundamental: o que é verdadeiramente a memória dos oceanos”.
Agora, os autores do estudo atribuem a grande capacidade de memória do Oceano Atlântico Norte ao ritmo lento das alterações na circulação oceânica e no transporte de calor. Além disso, as flutuações das temperaturas oceânicas exercem uma influência significativa nos climas regionais, como as temperaturas do ar, ao longo de mais de uma década.
Ric Williams, também da Universidade de Liverpool e coautor do artigo, afirma que esta é a primeira vez que se consegue medir a memória dos oceanos. “Descobrimos que, em contraste com as estimativas baseadas em observações, os modelos climáticos mais avançados subestimam significativamente a memória dos oceanos, estimando-a em apenas oito a dez anos. Esta discrepância sugere que os modelos climáticos podem ter implicações substanciais na exatidão das previsões climáticas decadais.” Segundo o investigador, este trabalho mostra como o oceano afeta o nosso clima e como a compreensão das alterações da temperatura do oceano conduz a uma maior competência nas projecções climáticas da próxima década.
O estudo envolve a Universidade de Liverpool, a Universidade de Oxford e o Met Office do Reino Unido, com o apoio do Conselho de Investigação do Ambiente Natural (NERC) do Reino Unido.