As temperaturas mais elevadas durante a estação de crescimento estão a alterar significativamente a produção e qualidade das uvas para vinho.
Todas as regiões vitícolas do mundo foram afetadas pelas alterações climáticas, mas com impactos desiguais que variam ao longo da estação de crescimento, refere um novo estudo de E.M. Wolkovich da Universidade da Colúmbia Britânica, publicado a 21 de maio na revista de acesso livre PLOS Climate.
As uvas para vinho são uma importante cultura perene que tem sido altamente afetada pelas alterações climáticas. Estudos mostram que as temperaturas mais quentes estão a deslocar as regiões adequadas para a viticultura para os pólos, enquanto as regiões tradicionais estão a produzir uvas que amadurecem mais rapidamente e têm níveis de açúcar mais elevados, o que altera o sabor do vinho. No entanto, apesar do crescente volume de investigação nesta área, ainda ninguém analisou de forma global os impactos, comparando o modo como as alterações climáticas estão a afetar as regiões vitícolas em todo o mundo.
No novo estudo, os investigadores estudaram a fenologia das uvas para vinho – o momento das diferentes fases de crescimento e reprodução das videiras em resposta ao ambiente. Utilizaram dados de mais de 500 variedades, analisando 10 medidas de clima, desde as temperaturas mais baixas durante a dormência e quando os botões emergem, aos extremos de calor durante a estação de crescimento, às temperaturas e precipitação durante a vindima.
E.M. Wolkovich, 2025, PLOS Climate, CC-BY 4.0 (https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/)
Os investigadores descobriram que as alterações climáticas afetaram todas as regiões vitícolas de forma diferente, o que dificulta a partilha de estratégias de adaptação entre os produtores. A Europa registou a maior mudança, com aumentos significativos no número de dias quentes acima de 95°F e nas temperaturas mais elevadas durante a época de crescimento. Em contrapartida, a América do Norte registou aumentos menores nas temperaturas médias e extremas.
Os investigadores concluem que estudos globais como este podem complementar os estudos regionais e ajudar os viticultores a adaptarem-se, fornecendo informações sobre as regiões que estão a mudar mais rapidamente em resposta ao aquecimento e as que estão a produzir uvas em condições mais extremas. Se a indústria vitivinícola global espera navegar pelos impactos das alterações climáticas, terá de lidar com estas mudanças complexas, que variam entre regiões e ao longo da época de crescimento.
Wolkovich resume: “Este estudo foi um grande empreendimento interdisciplinar e internacional, exigindo conhecimentos de climatologistas, modeladores de culturas, macroecologistas e especialistas em genética de uvas para vinho de França, Espanha, EUA e Canadá. Também se baseou em vastos recursos de dados, e não teria sido possível sem os registos da unidade experimental do INRAE Domaine de Vassal, que recolheu dados sobre uvas para vinho durante décadas.
“Fiquei muito surpreendido com o nível de aquecimento em todo o mundo, mas especialmente na Europa, onde os nossos resultados mostram claramente o quanto a estação de crescimento aqueceu com as alterações climáticas causadas pelo homem. Como alguém que visita a Europa há mais de 15 anos, tenho testemunhado o aumento das ondas de calor, mas ver os dados – e a quantidade de mudanças que os agricultores estão a enfrentar – foi preocupante e ainda maior do que eu esperava”.
A mesma fonte continua: “o facto de as maiores mudanças terem ocorrido nos extremos de calor e nas métricas relacionadas com o calor total também foi surpreendente, uma vez que tendemos a esperar que as alterações climáticas aqueçam mais as temperaturas mínimas – por isso, esperava que métricas como as temperaturas frias na altura do abrolhamento e da colheita fossem as que mais mudassem -, mas foram muitas vezes as métricas relacionadas com temperaturas mais elevadas.”
