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Aranhas do mar têm uma espécie de horta onde cultivam bactérias que se alimentam de metano

Cientistas descobriram um comportamento alimentar único e surpreendente no fundo do mar: aranhas-do-mar do género Sericosura cultivam colónias de bactérias metanotróficas que lhes fornecem nutrientes essenciais, ou seja, produzem a sua própria alimentação

O estudo, liderado por cientistas do Occidental College e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), revela uma simbiose inédita entre estes artrópodes e bactérias especializadas em oxidar metano e metanol.

Estas aranhas vivem em zonas denominadas seeps de metano — locais do leito marinho onde o gás escapa da crosta terrestre, originando ecossistemas que funcionam com base em reações químicas, e não com base na luz solar. As bactérias formam biofilmes espessos sobre o exoesqueleto das aranhas, particularmente em regiões ricas em metano, e oxidam estes compostos, transformando-os em carbono assimilável que é consumido pelas próprias aranhas.

Os investigadores realizaram expedições na costa do Pacífico da América do Norte e recolheram 36 espécimes entre a Califórnia e o Alasca, utilizando veículos operados remotamente e o submersível Alvin, e incubaram-nos em água do mar com metano e metanol marcados com carbono-13, um isótopo raro que serve como rastreador. Após cinco dias, detetaram a presença do carbono marcado nos tecidos digestivos dos animais, confirmando que o carbono provém do consumo direto das bactérias cultivadas — e não apenas da absorção passiva.

Outro aspeto fascinante é que as comunidades bacterianas foram encontradas também nos sacos de ovos que os machos transportam, sugerindo uma possível transmissão vertical deste “cultivo”, ou seja, a passagem deste mecanismo simbiótico para as gerações seguintes. Esta é uma forma inédita de “herança agrícola submarina”, nunca antes observada em animais marinhos.

Além do papel nutricional, a simbiose pode oferecer proteção às aranhas contra toxinas ambientais, conferindo-lhes vantagens adaptativas em ambientes extremos e ricos em metano. O estudo destaca ainda a diversidade microbiana associada às aranhas, identificando famílias bacterianas como Methylomonadaceae, Methylophagaceae e Methylophilaceae.

Esta descoberta abre novas fronteiras no estudo das simbioses e revela formas alternativas de vida que dependem da química dos gases naturais, desafiando a visão tradicional centrada na energia solar. Como referem os autores, estamos perante um verdadeiro “agricultor do oceano profundo”, que cultiva o seu alimento diretamente no corpo.

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