As estátuas da Ilha da Páscoa “andaram” — e a física confirma
Foto: Carl Lipo
Novo estudo com modelação 3D e experiências no terreno mostra como os antigos habitantes de Rapa Nui moveram as monumentais estátuas moai
Durante séculos, o mistério sobre como os antigos habitantes da Ilha da Páscoa conseguiram transportar as gigantescas estátuas de pedra — os famosos moai — intrigou arqueólogos e curiosos em todo o mundo. Agora, uma equipa de investigadores liderada pelo arqueólogo Carl Lipo, da Universidade de Binghamton (EUA), afirma ter encontrado uma resposta definitiva: as estátuas “andaram”.
Combinando modelação tridimensional, princípios de física e experiências práticas no terreno, os investigadores demonstraram que os moai podiam ser movidos de pé, balançando num movimento controlado de um lado para o outro, puxados com cordas por um pequeno grupo de pessoas.
Este diagrama ilustra a técnica de “caminhada” na qual os moais eram movidos ao longo de estradas preparadas por meio de puxões de corda laterais alternados, mantendo uma inclinação para frente de 5 a 15° em relação à vertical. Crédito: Carl Lipo
“Uma vez que se começa o movimento, não é nada difícil – as pessoas puxam com um braço, o que conserva energia e permite que a estátua se desloque rapidamente”, explicou Carl Lipo. “A parte mais difícil é fazê-la começar a balançar.”
Movimento em “ziguezague”
O estudo, realizado em colaboração com Terry Hunt, da Universidade do Arizona, analisou cerca de mil moai e identificou características de design que facilitariam esse tipo de transporte: bases em forma de “D” e uma ligeira inclinação para a frente, que ajudariam as estátuas a “andar” em ziguezague.
Para testar a hipótese, a equipa construiu uma réplica de 4,35 toneladas com essas mesmas características. Com apenas 18 pessoas, conseguiram mover a estátua 100 metros em 40 minutos — um feito consideravelmente mais eficiente do que as tentativas anteriores de transporte vertical.
“A física confirma o que vimos experimentalmente. E quanto maiores forem as estátuas, mais sentido faz este método — é praticamente a única forma possível de as mover”, afirmou Lipo.
Exemplo de um moai de estrada que caiu e foi abandonado após uma tentativa de reergue-lo escavando sob a sua base, deixando-o parcialmente enterrado em um ângulo. Crédito:Carl Lipo
As estradas que ajudavam a caminhar
Os investigadores também analisaram as estradas antigas de Rapa Nui, com cerca de 4,5 metros de largura e uma secção côncava. Estas vias revelam-se ideais para estabilizar as estátuas durante o movimento.
“Cada vez que moviam uma estátua, criavam uma nova estrada. O próprio processo de deslocamento fazia parte da construção do caminho”, explicou o arqueólogo. “Vemos várias estradas paralelas e sobrepostas — indícios de diferentes trajetos criados à medida que iam avançando.”
A equipa de Lipo criou modelos 3D de moais para determinar as características únicas que os tornavam passíveis de “caminhada” por Rapa Nui. Crédito:Carl Lipo
A engenhosidade de um povo
A teoria do “moai caminhante” desafia as antigas hipóteses de que as estátuas eram transportadas deitadas sobre trenós de madeira ou rolos. Para Lipo, todas as evidências recolhidas até agora reforçam a explicação baseada no movimento oscilante vertical.
“Nada do que encontramos contradiz esta hipótese. Pelo contrário, tudo o que vemos continua a fortalecê-la”, sublinhou o investigador. “É um exemplo de ciência em ação: uma ideia testada e comprovada com base em evidências.”
Mais do que resolver um enigma histórico, Lipo considera que este trabalho presta homenagem ao engenho dos antigos habitantes de Rapa Nui.
“Mostra que o povo da Ilha da Páscoa era incrivelmente inteligente. Conseguiram feitos monumentais com recursos muito limitados. Devemos reconhecê-los como grandes engenheiros e pensadores práticos”, concluiu.
Fonte: Universidade de Binghamton (EUA), publicação científica revista por pares.