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Ativista pede fim de troféus de caça de animais abatidos em países africanos

Dez anos depois da morte do leão Cecil no Zimbabué, o ambientalista Eduardo Gonçalves pede sem demora o fim da caça desportiva de animais selvagens em países africanos como Moçambique e defende a aposta no ecoturismo. 

Em 2015, causou indignação a morte de forma ilegal desse leão, parte de estudos, que vivia numa reserva natural daquele país africano, abatido por um norte-americano para ficar com a cabeça como troféu. 

Desde então, figuras públicas como o músico Ozzy Osbourne ou a atriz Judy Dench manifestaram o apoio à campanha Ban Trophy Hunting [Proíbam os Troféus de Caça], que o luso-britânico fundou no Reino Unido.  

“No caso de Moçambique, trata-se de um fenómeno relativamente recente. Há algum tempo não havia quase nenhuma atividade ou exportação de troféus”, afirmou o ambientalista à agência Lusa. 

Mas a redução das populações destes animais noutros países sul-africanos, como a Zâmbia, Zimbábue, África do Sul ou Tanzânia, “levou empresas envolvidas nestas indústrias a olhar para outros países”. 

“Moçambique é um desses países. Há cada vez mais empresas norte-americanas e inglesas a criar bases de atividade em Moçambique”, salientou Gonçalves, que nasceu em Londres, filho de portugueses.

Já Angola é um país onde a caça de troféus caiu devido à redução do número de espécies como elefantes e leões, em parte por causa da caça desportiva.

“É uma atividade sem viabilidade a longo prazo, não tem sustentabilidade económica. São muito poucos os benefícios para as populações locais. São, sim, para os proprietários, e para os administradores das empresas que estão por trás desta atividade”, afirmou.

O ambientalista referiu um estudo publicado recentemente que “mostrou que se a África do Sul fizesse uma mudança organizada deste setor para o ecoturismo, como os safaris fotográficos, havia cerca de 11 vezes mais postos de trabalho criados nas zonas rurais”.

O antigo Presidente do Botsuana, Ian Khama, concorda que o turismo deve ser compatível com a conservação da natureza, e criticou, em declarações à Lusa, o sucessor por ter levantado no ano passado as restrições à exportação de troféus de caça, alegando um excesso de elefantes.

Para marcar o aniversário da morte do leão Cecil, Eduardo Gonçalves publicou três livros sobre o tema, um com prefácio de Priscilla Presley, a filha do cantor Elvis Presley, e tem planeado o lançamento de um documentário a denunciar más práticas.

“A curto prazo, eu acho que devia haver uma moratória” à importação de troféus de caça, afirmou, propondo ação a nível internacional, nomeadamente ao nível da União Europeia. 

Atualmente, para os caçadores levarem para casa as cabeças ou cadáveres de animais de espécies ameaçadas como troféus de caça, é necessária uma autorização de importação dos respetivos países. 

“Deviam acabar com essas autorizações. De certo modo, já acabava com o problema. Mas também acho que temos de acabar com a atividade em si”, acrescentou. 

O antigo político luso-britânico pretende avançar, juntamente com um grupo de ambientalistas, cientistas e representantes de governos, com uma proposta na ONU para debater esta questão.

Gonçalves cita estatísticas que indicam que a população mundial de leões afundou de 200 mil nos anos 1970 para cerca de 20 mil atualmente e que a tendência é geral. 

“Nos últimos 10 anos foram mortos cerca de 10 mil leões e dezenas de milhares de outras espécies, muitas delas ameaçadas”, indignou-se.

A campanha para proibir os troféus de caça teve apoio de todos os partidos britânicos, mas ainda não foi aprovada legislação como já aconteceu em França, que proibiu a importação de leões mortos, Bélgica, Países Baixos ou Austrália. 

Outros países estão a estudar legislação semelhante, como a Itália, Alemanha e até os Estados Unidos, que já proíbe a importação de algumas espécies como chitas, adiantou o ativista, que antes trabalhou para a organização ambientalista World Wide Fund for Nature (WWF). 

Os caçadores mais prolíficos de que teve conhecimento, e sobre os quais fala nos livros, foram dois espanhóis, um que contou ter morto 20 elefantes em 75 minutos e mais de quatro mil animais no total, enquanto outro confessou ter perdido a conta nos milhares. 

Mas as nacionalidades dos caçadores são variadas, incluindo a portuguesa.

Dados da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITE) indica que, em 2023, foram importados para Portugal 28 troféus de caça, incluindo chitas, leopardos, elefantes, ursos, zebras e leões.

LUSA

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