Uma proposta para prospeção de ouro numa área que abrange quatro concelhos do distrito de Évora, sobretudo o de Montemor-o-Novo, divide opiniões neste município, com uns centrados nos benefícios e outros a apontarem os perigos.
“Somos totalmente contra a exploração mineira na nossa região e acreditamos que já há dados suficientes de prospeção”, pelo que “não é preciso fazer mais”, argumentou hoje à agência Lusa o presidente da Câmara de Montemor-o-Novo, Olímpio Galvão.
Já José Geraldo, presidente da Junta de Freguesia de Santiago do Escoural, no mesmo concelho, defendeu à Lusa o avanço da prospeção, argumentando que a anterior, desenvolvida há anos por outra empresa, “deu emprego a algumas pessoas e mexeu com a vila” e “não deixou marcas” na paisagem.
Os dois autarcas de Montemor-o-Novo, ambos eleitos pelo PS, têm visões distintas sobre o pedido da sociedade E79 Portugal Unipessoal para a prospeção de minérios numa área com 447,5 quilómetros quadrados, maioritariamente neste concelho, mas também nos de Évora, Vendas Novas e Viana do Alentejo.
Com este pedido de prospeção, cujo processo de consulta pública terminou no dia 05 deste mês, a E79 Portugal, com sede em Beja, pretende procurar naquela área territorial, além de ouro, também depósitos minerais de cobre, chumbo, zinco e prata.
Nas declarações à Lusa, o presidente da câmara destacou que, no âmbito da consulta pública, o município emitiu parecer desfavorável ao projeto, em que alega a existência de “muitas zonas de proteção da natureza” e áreas da Rede Natura 2000.
“No entanto, o parecer político da câmara municipal é totalmente contra esta prospeção”, frisou, explicando que, nos últimos anos, foram realizadas pesquisas naquela zona e “já existem dados mais do que suficientes”.
Assinalando que os dados “demonstram que, no máximo, existem duas gramas de ouro por cada tonelada”, Olímpio Galvão calculou que, “para se tirarem 500 toneladas de ouro, que é a intenção da empresa, é preciso revolver 250 milhões de toneladas de matéria”.
“Minas a céu aberto com uma profundidade até cerca de 120 metros vão causar um crime ambiental na nossa zona e toda a biodiversidade e riqueza ambiental da Serra do Monfurado vale muito mais do que o ouro que possa ser tirado”, sustentou.
Por sua vez, o presidente da Junta de Freguesia de Santiago do Escoural realçou que se trata “apenas de uma intenção de prospeção”. Os anteriores trabalhos deste tipo “não deixaram, em termos de ambiente, quaisquer marcas ou danos visíveis”.
“Até agora, o que as pessoas me dizem é que os benefícios foram maiores do que os prejuízos, porque não se dá conta, nem ninguém consegue dizer, onde estão os danos ambientais das prospeções que se fizeram”, sustentou.
José Geraldo reconheceu que a anterior prospeção mineira na zona do Monfurado, que chegou ao fim em 2017, “não serviu para desenvolver a vila, mas, pelo menos, deu emprego a algumas pessoas e mexeu com a povoação”.
Desta vez, “como estamos a falar de prospeção, não era mau de todo saber o que temos debaixo da terra. Pensarmos se vale a pena ou não a exploração já é outro assunto, a ser discutido daqui a cinco ou seis anos”, acrescentou.
Rui Fernandes, que representou a empresa nas sessões de esclarecimento realizadas na região, defendeu à Lusa a importância da prospeção e da validação de dados anteriores para determinar a viabilidade de uma eventual exploração mineira.
“Até é capaz de haver viabilidade, porque estamos com o ouro a quase 100 euros a grama”, admitiu, ainda que mantenha dúvidas, se se confirmar o rácio de 1,68 gramas de ouro por tonelada determinado em prospeções anteriores.
O representante da E79 Portugal adiantou que, caso a empresa obtenha a licença de prospeção, o primeiro ano e meio será para validar os dados de pesquisas anteriores e só depois avançar para trabalhos no terreno.
“O impacto é zero”, pois estão previstas “sondagens mecânicas com 10 centímetros de diâmetro e pode ser feita prospeção geofísica aérea, que funciona quase como um raio-X à crosta terrestre”, acrescentou.
O relatório da participação pública deste pedido de prospeção, consultado pela Lusa no portal Participa, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), revelou que houve 172 participações, das quais 169 manifestaram discordância em relação ao projeto.
O receio de impactes ambientais, a falta de provas da idoneidade e fiabilidade da empresa proponente ou as implicações para os setores do turismo e da agricultura foram algumas das preocupações manifestadas.
Autarquias, associações ambientalistas e de defesa do património, partidos políticos e a Universidade de Évora pronunciaram-se de forma desfavorável em relação ao projeto.
De acordo com a legislação, a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) tem 20 dias após o fim da consulta pública para enviar ao Governo o seu parecer e restante documentação para decisão.
LUSA