A biofluorescência é um fenómeno que ocorre quando um organismo absorve luz, transforma-a e emite-a com uma cor diferente
Estas aves são de uma beleza única. As suas cores vibrantes pintam os locais por onde passam. Agora uma nova investigação realizada por cientistas do Museu Americano de História Natural e da Universidade de Nebraska-Lincoln relata, pela primeira vez, a ocorrência generalizada de biofluorescência nas aves-do-paraíso. O estudo, baseado em espécimes do Museu recolhidos desde 1800, encontra biofluorescência em 37 das 45 espécies conhecidas e sugere que este “brilho” especial é importante entre os machos para a hierarquia e exibições de acasalamento. A investigação foi publicada na revista Royal Society Open Science.
“Os rituais de acasalamento e as exibições únicas das aves-do-paraíso têm fascinado os cientistas e estimulado uma miríade de estudos centrados na evolução das caraterísticas e na seleção sexual”, afirmou a autora principal do estudo, Rene Martin, professora assistente na Universidade de Nebraska-Lincoln, que realizou este trabalho quando era investigadora de pós-doutoramento no Museu. “Parece lógico que estas aves vistosas estejam provavelmente a enviar sinais umas às outras de formas adicionais e vistosas”.
A biofluorescência é um fenómeno que ocorre quando um organismo absorve luz, transforma-a e emite-a com uma cor diferente. Nos últimos anos, o curador do museu John Sparks, um ictiólogo, e os seus colegas identificaram biofluorescência anteriormente desconhecida em centenas de espécies, com especial incidência nos peixes. Utilizando um equipamento fotográfico especializado com luzes ultravioleta e azul e filtros de emissão, os investigadores captaram a biofluorescência em animais que vão desde tubarões a tartarugas e corais. Há cerca de uma década, Sparks trabalhou em estreita colaboração com ornitólogos do Museu para procurar biofluorescência na vasta coleção do Museu entre um subconjunto de aves que são conhecidas pelas suas exibições de cortejo.

Crédito: © Rene Martin
“Apesar de existirem mais de 10 mil espécies de aves descritas, com numerosos estudos a documentaram a sua plumagem brilhante, as elaboradas exibições de acasalamento e a sua excelente visão, surpreendentemente, muito poucos investigaram a presença de biofluorescência”.
Os pássaros-dos-caniços e as fadas-das-torres não brilharam, mas entre as aves-do-paraíso, Sparks encontrou uma fluorescência verde-amarela brilhante. O seu trabalho inicial foi continuado recentemente por Martin e Emily Carr, uma estudante de doutoramento da Escola de Pós-Graduação Richard Gilder do Museu. Juntos analisaram mais de perto a biofluorescência das aves-do-paraíso, que vivem no leste da Austrália, Indonésia e Nova Guiné, descobrindo que estas também apresentam fluorescência quando expostas à luz UV, e não só quando estão expostas à luz azul. Este fenómeno é especialmente proeminente nos machos, concentrando-se na sua plumagem brilhante e na pele em áreas que são realçadas durante as exibições: o interior da boca e do bico, os pés e as penas na cabeça, pescoço e barriga. Nas fêmeas, a biofluorescência restringe-se normalmente à plumagem do peito e da barriga.

Exemplos de oito espécies diferentes de aves do paraíso machos fotografadas sob luz branca (acima) e a mostrar regiões biofluorescentes (abaixo). Astrapia mayeri, Cicinnurus regius, Diphyllodes magnificus, Paradisaea rubra, Paradigalla carunculata, Paradisornis rudolphi, Parotia lawesii e Seleucidis melanoleucus
“Estas aves vivem perto do equador, onde há uma abundância de luz solar brilhante durante todo o ano, e vivem em florestas onde a complexidade da luz é significativamente afetada por diferenças na copa das árvores e onde os sinais biofluorescentes podem ser reforçados”, disse Carr.
Estudos baseados em espécies estreitamente relacionadas descobriram que os pigmentos nos olhos das aves se alinham com os picos de fluorescência que os investigadores mediram. Com base neste facto, os autores inferem que as aves-do-paraíso conseguem ver estes padrões biofluorescentes, que aumentam o contraste contra a plumagem escura e possivelmente desempenham um papel importante na corte e na hierarquia.
O financiamento deste trabalho foi fornecido pelo Departamento de Ictiologia do Museu Americano de História Natural, pela Richard Gilder Graduate School e pela Gerstner Scholarship.