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Axolotes e a juventude eterna

Retardar o envelhecimento é o sonho de muitos cientistas. Há várias espécies que contém o segredo da juventude. Será que esta está na pele dos Axolotes?

A pele é constituída por duas camadas primárias. A epiderme, a camada mais externa, é predominantemente constituída por queratinócitos, enquanto a derme mais profunda contém vasos sanguíneos, nervos e proteínas estruturais como o colagénio, que conferem à pele a sua força e textura. Tradicionalmente, acreditava-se que os fibroblastos – células de suporte especializadas na derme – desempenhavam um papel fundamental na produção de colagénio.

Nos seres humanos, o colagénio é formado antes e depois do nascimento. Pensa-se que os fibroblastos desempenham um papel exclusivo na produção de colagénio na pele e que os queratinócitos não contribuem para a produção de colagénio. A afirmação “A produção de colagénio na pele humana é conseguida pelos fibroblastos” tem sido um acordo tácito no campo da investigação da pele.

No entanto, num estudo inovador publicado no Volume 16 da Nature Communications em fevereiro de 2025, cientistas da Universidade de Okayama, no Japão, desafiaram esta crença de longa data. Utilizando a pele transparente de axolotes, um anfíbio aquático amplamente utilizado na investigação dermatológica, descobriram um mecanismo diferente para a formação de colagénio dérmico.

Para acompanhar o desenvolvimento do colagénio, os investigadores examinaram a pele do axolote em diferentes fases de crescimento – 5 cm, 8 cm, 10 cm e 12 cm de comprimento – utilizando técnicas avançadas de microscopia baseadas na fluorescência. Aos 5 cm, a pele do axolote era constituída por uma epiderme com queratinócitos e uma fina camada de colagénio sem fibroblastos na derme, a que chamaram stratum coniunctum.

À medida que o axolote crescia, a camada de colagénio foi engrossando e só mais tarde os fibroblastos começaram a migrar para dentro dela, acabando por formar três camadas dérmicas distintas por baixo da epiderme: o stratum baladachinum, o stratum spongiosum e o stratum compactum. Cada uma destas camadas tinha uma estrutura de colagénio única, nenhuma das quais correspondia ao padrão original do stratum coniunctum.

Uma vez que o colagénio já estava presente antes de os fibroblastos começarem a contribuir para a formação do colagénio dérmico, a equipa procurou a fonte de produção de colagénio através de uma nova técnica de marcação de colagénio que pode clarificar as fibras de colagénio recém-sintetizadas. Os resultados foram surpreendentes: foram detetados fortes sinais fluorescentes nas fibras de colagénio produzidas pelos queratinócitos e não pelos fibroblastos. “Até agora, pensava-se que os fibroblastos eram os principais contribuintes para o colagénio da pele. Todos os esforços na ciência cosmética e na investigação médica da pele têm-se centrado na regulação dos fibroblastos. Mas o presente estudo exige uma mudança de mentalidade. Esclarecemos que os queratinócitos são os principais responsáveis pela formação do colagénio dérmico”, explica Ayaka Ohashi, estudante de doutoramento na Graduate School of Environmental, Life, Natural Science, and Technology da Universidade de Okayama.

Investigações posteriores revelaram que os queratinócitos produzem colagénio numa disposição estruturada, em forma de grelha, na sua superfície inferior. Mais tarde, os fibroblastos, que têm uma estrutura em forma de grelha e projecções semelhantes a dedos, migraram para esta camada de colagénio, modificando-a e reforçando-a. Para confirmar que este processo não é exclusivo dos axolotes, os investigadores examinaram outros modelos de vertebrados, incluindo o peixe-zebra, embriões de pinto e embriões de mamíferos (ratos). As suas descobertas foram consistentes em todas as espécies, sugerindo que a produção de colagénio pelos queratinócitos é um mecanismo evolutivamente conservado.

Compreender como o colagénio se forma antes do nascimento é crucial para lidar com o envelhecimento da pele e desenvolver novos tratamentos para doenças relacionadas com o colagénio. “Os axolotes conseguem manter uma boa textura e aparência da pele durante muito tempo. Quero dizer, têm uma espécie de juventude eterna”, diz o Professor Akira Satoh da Universidade de Okayama. “Isto pode dever-se ao facto de continuarem a produzir colagénio nos queratinócitos durante muito tempo. Por outro lado, nós, humanos, não conseguimos manter a produção de colagénio nos queratinócitos após o nascimento. Se conseguirmos esclarecer o mecanismo que permite aos axolotes manter os queratinócitos a produzir colagénio durante toda a sua vida, talvez consigamos alcançar a eterna juventude, tal como os axolotes”.

Esta descoberta reformula a nossa compreensão da biologia da pele e pode levar a avanços na medicina regenerativa, na cicatrização de feridas e nas formulações cosméticas. Os produtos de cuidados da pele actuais visam principalmente a atividade dos fibroblastos, mas os tratamentos futuros poderão ter de se concentrar na estimulação da produção de colagénio pelos queratinócitos.

Ao derrubar uma crença com décadas de existência, esta investigação abre caminho a uma nova era na ciência dos cuidados da pele – uma era que nos poderá aproximar da manutenção de uma pele jovem e resistente durante toda a vida.

Estudo completo aqui

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