Maria Moreira Feio, Gestora de Projeto na Fundação Oceano Azul, responsável pela gestão do Blue Bio Value conta que 50% das startups após o programa, têm soluções prontas para entrar no mercado. As startups já angariaram uma média de 22,8 milhões de euros em capital, geraram cerca de 6,7 milhões de euros e criaram mais de 299 postos de trabalho
O que é o programa de aceleração Blue Bio Value e que balanço faz desde a sua criação em 2018?
O Blue Bio Value foi um dos primeiros programas criados pela Fundação Oceano Azul em 2018. O trabalho da Fundação é focado na conservação do oceano, mas com uma área disruptiva de economia com a visão de que não é possivel salvarmos o que resta e recuperar o que se perdeu se não mudarmos o paradigma económico atual. O Blue Bio Value surgiu com a missão de contribuir para a criação de um mercado que usa os biorrecursos marinhos de forma sustentável, apoiando startups e projetos com produtos e serviços inovadores na área da bioeconomia azul que contribuem para a descarbonização das cadeias de valor de diferentes indústrias.
O programa garante as ferramentas essenciais para as startups e projetos deste nicho ficarem preparadas para entrar no mercado, através de diferentes workshops práticos de desenvolvimento de negócio, gestão financeira, marketing e vendas, técnicas de pitch, recursos humanos entre outros, com especialistas das diferentes áreas. Durante o programa, os participantes têm acesso a uma grande rede de mentores internacionais, assim como acesso direto ao ecossistema ao nível da indústria.

Quais as diferenças relativamente a outros programas de aceleração? O que podem os projetos esperar ao participarem no Blue Bio Value?
A grande mais-valia de uma startup ou projeto participar no Blue Bio Value, é a de ter acesso a um acelerador focado no nicho da bioeconomia azul. Este foi um dos primeiros programas do mundo focado nesta área e a oferta do programa reflete isso mesmo. Os participantes têm acesso direto a mentores altamente especializados, e à indústria, que é algo destacado por muitas startups como uma mais-valia relativamente a outros aceleradores. O Blue Bio Value cria espaços de networking que facilitam o desenvolvimento de parcerias com o ecossistema português que é tão rico nesta área. Muitas das startups no final do programa iniciam uma nova jornada em Portugal. É importante, pois o programa acaba por contribuir para a inserção destas novas soluções no mercado, e também para atração de high-skilled workers para Portugal.
O que acontece quando o programa acaba?
Quando o programa acaba, todos os nossos alumni continuam ligados à BLUEBIO ALLIANCE, a Associação Nacional para os Biorecursos Marinhos e Biotecnologia Azul, que dinamiza o ecossistema em Portugal com associados nacionais e internacionais. Esta ligação à Associação após o programa, permite um suporte a longo prazo apoiando as startups com conexões com investidores e novos parceiros de negócio no futuro.
Quem pode concorrer? E qual o valor do prémio?
O programa está dividido em dois, o Blue Bio Value Aceleração e o Blue Bio Value Ideação. A Aceleração, com foco internacional, apoia startups com soluções inovadoras que usem biorrecursos marinhos de forma sustentável, ou que solucionem alguns dos principais desafios mundiais, como a poluição e a alimentação de uma população em crescimento. Temos soluções de indústrias completamente diferentes, como a criação de novos materiais de base biológica para a construção, embalagens, substitutos ao plástico, novos pigmentos e fibras têxteis. Há também soluções para a indústria farmacêutica, nutracêutica e bem-estar animal, assim como para a alimentação humana e animal.
O Blue Bio Value Ideação, tem um foco nacional, e apoia projetos de I&D na transferência da sua tecnologia para o mercado…
O programa junta equipas de investigação que trazem um projeto concreto em biotecnologia azul, com um mentor de gestão, empreendorismo, que os apoie durante o programa nesta criação de um modelo de negócio que transforme investigação em produtos e serviços que possam entrar no mercado.
Ambos os prémios são oferecidos em formato voucher, a utilizar na Blue Demo Network, uma plataforma gerida pela BLUEBIO ALLIANCE, que reúne diferentes empresas do ecossistema, permitindo aos vencedores executarem o voucher nos serviços que lhes forem mais atrativos no estágio em que se encontram, que podem ir desde apoio legal, testes em laboratório, marketing, entre outros. O prémio da Aceleração são 45 mil euros que pode ser dividido até três vencedores, e o da Ideação são 10 mil euros, que pode ser dividido até dois vencedores.
Este ano ganharam empresas portuguesas.. E nos anos anteriores? Quantas?
A Aceleração teve até agora sete edições com um total de 21 vencedores, cinco deles portugueses com foco na indústria da alimentação, monitorização e saúde: UNDERSEE; SEAentia; Horta da Ria; BOTL; Exogenus Therapeutics.
A Ideação tem foco no ecossistema nacional, pelo que habitualmente são sempre projetos portugueses que ganham. Este ano, realizou-se a 5.ª edição do programa
Esta é uma área de risco… Porquê? Não deveria ser ao contrário, visto que o oceano ocupa a maior parte do nosso planeta?
O oceano ocupa a maior parte do nosso planeta, o que faz dele um grande aliado no que toca à oferta de biorrecursos com potencial para desenvolver soluções descarbonizadoras como as que temos encontrado no Blue Bio Value. Contudo, é uma área de risco pois a bioeconomia azul depende de biorrecursos vivos saudáveis para prosperar o que faz com que seja necessário muito mais tempo em testes para se perceber a reação dos organismos nos diferentes ambientes. A durabilidade dos produtos, a forma como se comportam às diferentes temperaturas, onde são produzidas as matérias-primas.
A biotecnologia azul, é também uma área ainda muito pouco explorada, comparando com a biotecnologia.
Ainda se desconhece muito do oceano e dos organismos que o habitam e o processo de captura de organismos no mar, e análise em laboratorio é mais difícil do que com biorrecursos terrestres. Ainda estamos numa fase de desenvolvimento muito inicial, mas já sabemos que tem um potencial imenso para dar resposta a diferentes desafios e ser alavanca da economia. O desenvolvimento da biotecnologia, de acordo com a Mission Starfish 2030 pode atingir um valor de 200 mil milhões até 2030 a nível global. É fundamental atrair financiamento para a área, assegurar políticas incentivadoras, e sensibilizar para o desenvolvimento da bioeconomia azul, tanto a nivel da indústria, como a nivel da investigação.
Qual tem sido o sucesso das startups? Há números? Há já empresas constituídas e a operar no mercado saídas dos vossos programas?
Este ano encomendámos um estudo do impacto do programa à empresa Lograme, que nos conseguisse dar alguns números do real impacto do programa nos últimos seis anos. O estudo estimou que mais de 50% das startups após o programa, têm soluções prontas para entrar no mercado. As startups já angariaram uma média de €22.8M em capital, geraram cerca de €6.7M e criaram mais de 299 postos de trabalho.
Além disso, 37% das startups do Blue Bio Value Aceleração estão atualmente ativas no mercado. Sendo que a média de sobrevivência de uma startup na área da tecnologia é de 10%, consideramos o portfolio do Blue Bio Value com um impacto muito positivo no ecossistema. Podemos destacar alguns exemplos:
– Zeefier
Quais os projetos que fazem falta para ajudar os oceanos? Do que estão à procura?
O programa procura startups e projetos que estejam a trabalhar em biotecnologia azul, que criem produtos sustentáveis e descarbonizadores e que se diferenciem no mercado pelas suas características de origem marinha. Startups que respeitem o uso sustentavel dos recursos do oceano, e que respondam aos principais desafios da atualidade, com potencial de escalarem e terem um verdadeiro impacto a nivel global.