#PorUmMundoMelhor

Teresa Cotrim

Quem disse que burro velho não aprende línguas?

Todos conhecemos o ditado: “Não se pode ensinar truques novos a um cão velho.” Mas será mesmo assim?

À medida que envelhecemos, a nossa capacidade de aprender novas habilidades, como dominar uma língua estrangeira ou tocar um instrumento musical, parece desaparecer. O culpado? Um declínio na plasticidade cerebral — capacidade do cérebro se reconectar e adaptar a novos desafios. Mas e se pudéssemos voltar atrás no tempo e reverter esse declínio relacionado com a idade? Um novo estudo liderado por Daniela Vallentin do Instituto Max Planck de Inteligência Biológica abre uma janela de esperança.

A equipa de Daniela Vallentin estudou tentilhões-zebra, pássaros canoros conhecidos pelas suas elaboradas vocalizações. Como muitos animais, os tentilhões-zebra têm um período crítico para a aprendizagem de melodias, nos primeiros 90 dias de vida. Após esse tempo essa janela de oportunidade fecha-se e os seus cérebros tornam-se menos flexíveis, e os neurónios inibitórios bloqueiam a aprendizagem posterior. Os investigadores então questionaram-se: seria possível levantar esse bloqueio neural e restaurar a capacidade de aprendizagem juvenil dos pássaros?

Recorrendo a técnicas de ponta como a optogenética — uma técnica que envolve o uso da luz, engenharia genética (manipulação de DNA) e bioengenharia para controlar funções neuronais —, desligaram esses neurónios inibitórios em tentilhões-zebra adultos. Os resultados foram notáveis. Os pássaros, antes considerados presos ao seu repertório existente, começaram a adicionar novos elementos às suas canções. “Observamos uma expansão do repertório vocal dos animais adultos que antes era considerada impossível”, diz Fabian Heim, o principal autor do estudo.

Implicações para o envelhecimento humano

Esta descoberta estende-se muito além do reino do canto dos pássaros. Ela sugere que a capacidade do cérebro para aprender pode ser muito mais resiliente do que se pensava anteriormente. Janelas de aprendizagem semelhantes existem em humanos, afetando tudo, desde a aquisição da linguagem até ao desenvolvimento social. Se os cientistas puderem identificar e manipular os mecanismos que controlam esses períodos críticos, isso poderá abrir portas para novas terapias para doenças neurodegenerativas e lesões que prejudicam a aprendizagem. Imagine o dia em que o ditado burro velho não aprende línguas seja finalmente remitido para a reforma! E que os mais velhos possam recuperar a capacidade de estar sempre a aprender e a acrescentar dados ao seu já amplo conhecimento. Decerto até curando algumas das doenças que atacam o cérebro humano. Seria incrível!

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