Um estudo publicado na revista Frontiers traz um alerta global: o fenómeno das ilhas urbanas (áreas da cidade significativamente mais quentes do que as suas vizinhanças rurais) está a intensificar-se muito mais rápido em países subdesenvolvidos.
A pesquisa, disponível aqui, aponta que desigualdades económicas estão diretamente ligadas ao aquecimento acelerado das metrópoles.
O que são ilhas de calor urbanas?
O asfalto, a falta de árvores e a concentração de edifícios fazem com que grandes cidades retenham mais calor, criando microclimas até 10°C mais quentes do que zonas rurais. Esse efeito, conhecido como ilha de calor, aumenta os riscos para a saúde e o consumo de energia e poluição.
Dados de satélite revelam desigualdade climática
Analisando dados de satélite de 2001 a 2020 em cidades de 150 países, os investigadores compararam a intensidade das ilhas de calor em nações com diferentes níveis de rendimento. Os resultados são alarmantes:
- Países com menos poder de compra ou mais pobres: Aumento de 0,5°C por década na intensidade do calor urbano.
- Países ricos: Aumento de apenas 0,1°C ncllimo mesmo período.
Isso significa que, em 20 anos, cidades como Nairóbi (Quénia) ou Daca (Bangladesh) aqueceram dez vezes mais do que Tóquio (Japão) ou Berlim (Alemanha).
Por que o rendimento faz diferença?
Segundo o estudo, três fatores explicam a disparidade:
- Vegetação: Cidades ricas têm mais parques e áreas verdes, que arrefecem o ar.
- Equipamentos Urbanos: Países ricos usam pavimentos refletores e telhados verdes; países pobres dependem de concreto e metal, que absorvem calor.
- Planeamento: Urbanização desordenada em países pobres prioriza expansão rápida, sem políticas ambientais.
“Países com menos recursos têm menos capacidade de investir em infraestruturas sustentáveis. Isso cria um ciclo vicioso: a pobreza acelera as mudanças climáticas locais, que, por sua vez, aprofundam desigualdades sociais”, explica o artigo.
Impactos na saúde e na economia
O calor extremo é uma das principais causas de mortes relacionadas ao clima.
Em cidades pobres, onde há menos acesso a ar-condicionado e sistemas de saúde robustos, idosos e comunidades periféricas são os mais afetados.
Além disso, o aumento do consumo de energia para arrefecer pode sobrecarregar redes elétricas e elevar emissões de carbono.
Há solução?
Os investigadores destacam medidas como:
- Plantio massivo de árvores em áreas urbanas.
- Incentivo a materiais de construção que refletem luz solar.
- Políticas públicas que integrem mudanças climáticas ao planeamento urbano.
Porém, o estudo ressalta que países pobres precisam de apoio internacional para implementar essas soluções, já que muitos enfrentam dívidas e prioridades imediatas, como combate à pobreza.
Um problema global que exige ação coletiva
“Enquanto o mundo discute metas globais de carbono, este estudo mostra que a crise climática também é local e profundamente desigual. Cidades pobres estão literalmente a “pegar” fogo, e isso exige cooperação internacional urgente”, conclui o artigo.
In EcoDebate