Os cientistas planetários acreditam ter dado um passo decisivo para prever o brilho verde das auroras no céu noturno de Marte – e já têm imagens que o comprovam.
As primeiras observações de uma aurora em luz visível a partir da superfície do planeta vermelho foram feitas em 2024 pelo rover Perseverance, da NASA. Agora, durante o congresso conjunto Europlanet Science Congress – Division of Planetary Science (EPSC–DPS), em Helsínquia, a investigadora Elise Wright Knutsen, da Universidade de Oslo, apresentou uma nova imagem captada pelo rover e, sobretudo, as ferramentas que permitem prever quando estas auroras marcianas irão acontecer.
“O facto de termos conseguido registar novamente a aurora demonstra que o nosso método de previsão funciona”, explicou Knutsen, que também liderou a equipa responsável pela primeira fotografia de uma aurora marciana a partir do solo.
As auroras formam-se quando partículas energéticas libertadas pelo Sol durante uma ejeção de massa coronal (CME) colidem com moléculas da atmosfera. Em Marte, estas colisões dão origem a um brilho verde, causado pela interação com átomos de oxigénio a grande altitude. Ao contrário da Terra, onde a magnetosfera canaliza as partículas para os polos, Marte não possui um campo magnético global, e por isso as auroras surgem de forma difusa por todo o lado noturno do planeta.

Além do seu fascínio visual — suficientemente intenso para ser visível a olho nu por futuros astronautas — estas auroras são também um aviso de radiação potencialmente perigosa. Saber quando uma tempestade solar atinge Marte poderá ser vital para a segurança de missões tripuladas.
A previsão, contudo, continua a ser um desafio. Como os comandos têm de ser enviados ao Perseverance com três dias de antecedência, a equipa de Knutsen baseou-se em tentativas sucessivas. Entre 2023 e 2024 foram feitos oito ensaios. Os primeiros falharam, mas ao correlacionar os dados com medições das sondas MAVEN (NASA) e Mars Express (ESA), os investigadores perceberam que apenas as ejeções mais rápidas e intensas conseguem gerar auroras em Marte.
Apesar de dois registos bem-sucedidos, as últimas tentativas não revelaram auroras, mesmo reunindo os critérios esperados. “Há sempre um fator de aleatoriedade, como acontece na Terra, onde também não conseguimos prever auroras com precisão absoluta”, comentou Knutsen.
As observações em luz visível, agora somadas às já realizadas em ultravioleta a partir da órbita, estão a criar um conjunto de dados único que permitirá melhorar os modelos de previsão. “Ainda há muito por compreender”, conclui Knutsen. “Ao comparar o momento das tempestades solares, a chegada das partículas energéticas e a intensidade das auroras, poderemos desvendar os mistérios sobre como estas se formam em Marte.”


