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Cintura Verde de Ouagadougou: alimentação sustentável para combater as alterações climáticas

A cidade procura equilibrar urbanização com a preservação da biodiversidade e a produção de alimentos saudáveis e acessíveis, um exemplo para o mundo em aquecimento

Os ecossistemas do planeta Terra estão ameaçados, e uma das razões são os níveis insustentáveis de produção e consumo. “A menos que as emissões de gases com efeito de estufa diminuam drasticamente, o aquecimento poderá ultrapassar os 2,9°C neste século”, alerta o Programa das Nações Unidas para o Ambiente. Além disso, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que, em 2050, 68% da população mundial será urbana e 70% dos alimentos serão consumidos nas cidades.

A título de exemplo: como todas as cidades da África Ocidental, a capital do Burkina Faso, Ouagadougou, regista um aumento das temperaturas há mais de dez anos, e a degradação do ambiente natural devido à atividade humana torna a vida na capital cada vez mais difícil, sobretudo para os mais pobres. A flora original da cidade está também a diminuir em diversidade e quantidade.

Atualmente, a pressão sobre os solos em Ouagadougou está a aumentar devido à urbanização acelerada da cidade. As áreas para a agricultura urbana e periurbana estão a tornar-se escassas. “As questões de produção são sempre prementes”, afirma Assami Tiendrebeogo, primeiro vice-presidente da Delegação Especial da Comuna de Ouagadougou à OXFAM internacional. Por exemplo, “é essencial garantir que as populações urbanas recebam alimentos saudáveis e seguros, respeitando o equilíbrio natural dos ecossistemas”.

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Ouagadougou junta-se ao esforço global

De acordo com um artigo da Rikolto, uma empresa que ajuda as comunidades a praticar a agricultura sustentável, em 2018, o município  de Ouagadougou aderiu ao Pacto de Milão, e em 2022, à Declaração de Glasgow sobre Alimentação e Clima. No ponto 1 do Pacto de Milão, lançado em 2015, os signatários comprometem-se a desenvolver sistemas alimentares sustentáveis que preservem a biodiversidade e a adaptar-se e mitigar os efeitos das alterações climáticas.

Segundo a mesma fonte, do mesmo modo, no ponto 15 da Declaração de Glasgow, as autoridades municipais comprometeram-se a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa provenientes dos sistemas alimentares urbanos e regionais e a construir sistemas alimentares sustentáveis à medida que os ecossistemas se reconstroem, fornecendo simultaneamente alimentos seguros, saudáveis, sustentáveis e acessíveis a todas as pessoas na cidade e fora dela.

Isto significa que a Câmara Municipal de Ouagadougou está a demonstrar o seu compromisso com uma abordagem de “alimentação sustentável e saudável” e a promovê-la no seu território. Neste sentido, a autarquia está a fazer experiências na cintura verde, um espaço concebido para se proteger dos ventos Harmattan, do sol e das temperaturas muito elevadas.

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Conservação da biodiversidade e luta contra as alterações climáticas

A Rikolto explica ainda numa publicação que a cintura verde começou em 1976 com vários objetivos: travar a erosão causada pelos fenómenos naturais e proteger os recursos hídricos do assoreamento e da sedimentação, afinal o deserto invasor fica além da vegetação, a apenas a alguns passos de distância e pode invadir as plantações. Outro objetivo é fornecer energia — biomassa, a principal fonte de energia utilizada na cidade — e alimentos para as famílias da cidade. Ao longo dos anos, este espaço foi criado para se tornar um pulmão verde da cidade. De salientar que segundo as Nações Unidas para a Agricultura de Alimentação (FAO), em Burkina Faso, um terço do território — cerca de 9 milhões de hectares de terra produtiva, está degradado, com uma taxa média de degradação estimada em 360 mil hectares por ano.

Nos últimos anos, foram desenvolvidas iniciativas para reflorestar a zona. Após uma série de esforços de reflorestação, a Câmara Municipal instalou no espaço mulheres, inicialmente como coletoras, para cuidar das árvores. Segundo um artigo do jornal The Guardian o objetivo inicial da cintura verde era reflorestar 2100 hectares a uma taxa anual de 100 hectares e, em 1986, a área onde tinham sido plantadas árvores era de 1032 hectares. O projeto estagnou um pouco nos últimos anos, apesar de ter atingido 2000 hectares. “Mas um novo ímpeto foi dado recentemente ao projeto, que busca, além de conter o deserto, combater o calor e promover a agricultura urbana para ajudar a alimentar uma cidade que dobrou sua população em apenas 14 anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística e Demografia (INSD). A onda de calor mortal que atingiu o país no ano passado, com a temperatura em Burkina Faso excedendo 42,3 °C (108 °F) por três dias consecutivos, apenas reforçou a urgência do que agora é um projeto vital para a cidade”. Um dos objetivos do cinturão verde é diminuir a temperatura da cidade, por isso estão a plantar árvores.

A realidade é que o aquecimento global não dará tréguas. De acordo com um estudo publicado pela Nasa que analisou o impacto de espaços verdes em 500 cidades no mundo, cidades no sul global não têm a mesma capacidade de arrefecer. Enquanto em cidades mais ricas, os espaços verdes podem ajudar as temperaturas a baixar até 2,5 °C, numa cidade média do norte, a capacidade de diminuir o aquecimento é de apenas 3,6 °C. O mesmo estudo refere que este é um “efeito luxo”, pois cidades mais ricas têm mais espaços verdes. “Já está claro que os países do sul global serão impactados por ondas de calor, aumento de temperaturas e extremos climáticos mais do que seus equivalentes do norte global”, disse Chi Xu, professor de ecologia na Universidade de Nanquim e coautor do estudo.

Construir sistemas alimentares urbanos resilientes

A Rikolto está a apoiar a requalificação da cintura verde. “O nosso objetivo é apoiar o município para regenerar a cidade e fazer da cintura verde uma área de abastecimento de vegetais”, diz Pazism-Néouindé Bernadette Ouattara, nascida Wininga de Rikolto na África Ocidental, num artigo publicado no site da organização, continuando “estamos a trabalhar para desenvolver um modelo de negócio paisagístico rentável para os produtores que contribuem para a revitalização da cidade e do seu abastecimento de vegetais”.

A instituição acredita que em 2040, a cintura verde será uma referência agro-ecológica bem desenvolvida, uma fonte de produção sustentável de alimentos saudáveis e nutritivos e de espécies locais ameaçadas, capaz de contribuir para a soberania alimentar, um local de criação de empregos verdes para mulheres, jovens e outros grupos vulneráveis no município de Ouagadougou.

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