A natureza tem tudo registado. Basta procurar as informações para se conseguir chegar a respostas mais concretas e prever eventos climáticos mais “agressivos”
Ajudar as comunidades a prever fenómenos meteorológicos extremos que nunca foram registados na história moderna é o objetivo de um novo artigo publicado na Nature Communications.
Uma equipa da Climate Adaptation Services Foundation, da Universidade de Reading e de outras instituições internacionais reuniu métodos para ver além das limitações dos registos meteorológicos convencionais, que normalmente só abrangem o século passado.
O artigo revela como, por exemplo, os arquivos da própria natureza – como os anéis das árvores – combinados com documentos históricos esquecidos podem revelar séculos de dados climáticos que os instrumentos modernos não registaram.
O autor principal, Timo Kelder, afirmou: “Desde a invenção das estações meteorológicas, temos estado limitados pelo facto de pensarmos que o clima extremo é apenas tão mau como o que medimos. Mas a nossa investigação mostra que podemos utilizar modelos meteorológicos para olhar para trás centenas ou mesmo milhares de anos e descobrir o que é verdadeiramente possível no nosso sistema climático”.
Um conjunto de ferramentas para cientistas e profissionais
Os investigadores identificaram quatro abordagens que, em conjunto, criam uma imagem mais completa dos possíveis fenómenos meteorológicos extremos:
1.Análise de registos convencionais
2.Estudo de arquivos históricos e naturais, como anéis de árvores
3.Criação de cenários hipotéticos baseados em acontecimentos passados
4.Utilização de modelos climáticos para simular os extremos fisicamente possíveis
Os anéis das árvores revelaram-se especialmente valiosos, com cada anel a preservar um ano de história climática. Os investigadores utilizaram estas cápsulas do tempo naturais para reconstruir 850 anos de padrões de seca no noroeste da China, revelando acontecimentos extremos que teriam sido invisíveis nos registos modernos.
A equipa também pôs em evidência fenómenos climáticos extremos esquecidos, pesquisando em arquivos históricos. Descobriram que o mês de junho de 1846 em Durham, no Reino Unido, foi significativamente mais quente do que qualquer temperatura moderna de junho. Do mesmo modo, setembro de 1774 em Oxford foi mais húmido do que qualquer outro mês registado nos 250 anos seguintes.
Adaptar, adaptar, adaptar
O artigo sublinha que, com estes métodos de antecipação do invisível, as comunidades podem preparar-se melhor para condições meteorológicas sem precedentes. Os métodos podem apoiar três níveis de preparação:
1.Melhoria dos sistemas de alerta precoce
2.Infra-estruturas melhoradas
3.Mudanças sociais transformadoras para reduzir a vulnerabilidade
Os investigadores concluem que, ao libertarmo-nos das restrições dos registos modernos limitados, podemos finalmente deixar de ser surpreendidos por fenómenos meteorológicos “sem precedentes”.
Dorothy Heinrich, coautora da Universidade de Reading, afirmou: “Um fenómeno meteorológico sem precedentes não se limita a quebrar recordes – quebra comunidades, infra-estruturas e vidas. Quando o inimaginável acontece, não estar preparado é um desastre à espera de acontecer. Mas a ciência pode ajudar-nos a imaginar o inimaginável, a descobrir estes riscos e a prepararmo-nos. O nosso futuro depende da rapidez e da profundidade com que nos adaptamos hoje.”