O mar mais quente destrói ecossistemas essenciais como florestas de algas, recifes e corais e já está a acontecer. Se os combustíveis fósseis, afinal mais de 90% do calor extra é armazenado no oceano
Um novo estudo pioneiro liderado por Marta Marcos, cientista da disciplina no Instituto Internacional de Ciências Espaciais (ISSI), revelou que o número de dias de ondas de calor marítimas extremas quase triplicou desde a década de 1940 – uma mudança dramática impulsionada em grande parte pelas alterações climáticas induzidas pelo homem.

Publicado esta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), o estudo oferece uma das avaliações mais claras até à data sobre a forma como o aquecimento global está a intensificar o stress térmico nos oceanos de todo o mundo, destruindo ecossistemas essenciais como florestas de algas, recifes e corais. O estudo concluiu que quase metade das ondas de calor marítimas observadas entre 2000 e 2020 não teriam ocorrido sem o aquecimento global.
Utilizando uma nova abordagem de modelização que reconstrói as temperaturas da superfície do mar numa Terra hipotética e de clima estável desde 1940, a equipa comparou estas simulações com os dados observados. Os resultados são impressionantes: o número médio de dias por ano com calor oceânico extremo aumentou de 15 dias na década de 1940 para quase 50 dias atualmente. Além da sua frequência crescente, estes eventos estão também a tornar-se mais duradouros e mais intensos – com o aquecimento global a acrescentar cerca de 1°C às temperaturas máximas das ondas de calor marítimas.
“Esta investigação é a primeira avaliação abrangente do impacto da crise climática nas ondas de calor nos oceanos do mundo e revela mudanças profundas. Oceanos mais quentes também absorvem menos das emissões de dióxido de carbono que estão elevando as temperaturas”, sublinha o The Guardian.
“Este estudo sublinha o impacto profundo e acelerado das alterações climáticas nos ecossistemas oceânicos”, afirmou a autora principal Marta Marcos. “As ondas de calor marinhas põem em perigo habitats vitais como os recifes de coral, as florestas de kelp e as pradarias de ervas marinhas – com efeitos em cascata na biodiversidade, nas pescas e até nos padrões climáticos globais.” Na sua opinião, diz ao The Guardian “a única solução é reduzir a queima de combustíveis fósseis. Essa é uma relação muito clara. Mais de 90% do calor extra [retido pelas emissões de gases de efeito estufa] é armazenado no oceano. Se você parar de aquecer a atmosfera, você parará de aquecer o oceano.”
A colaboração internacional – que envolveu cientistas do ISSI, do Instituto Mediterrânico de Estudos Avançados, da Universidade de Reading e da Universidade das Ilhas Baleares – também revelou disparidades regionais. Nos mares europeus, como o Mediterrâneo e o Mar do Norte, as ondas de calor marinhas são mais frequentes e mais intensas, enquanto as águas tropicais registam eventos mais frequentes.
Jon Robson, da Universidade de Reading, coautor do estudo, observou: “Os nossos oceanos não estão a responder de forma uniforme. Compreender estas diferenças regionais é crucial para desenvolver estratégias específicas de proteção dos ambientes marinhos vulneráveis”.
As conclusões têm implicações urgentes. Uma vez que os oceanos absorvem mais de 90% do excesso de calor resultante das emissões de gases com efeito de estufa, prevê-se que as ondas de calor marinhas continuem a aumentar, a menos que sejam tomadas medidas climáticas decisivas.
“O calor extremo dos oceanos não é apenas um sinal de aviso – já está a remodelar os ecossistemas e a ampliar os riscos climáticos”, afirmou Marcos em comunicado. “A nossa investigação realça o quanto está em jogo.”, afirma em comunicado.