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Teresa Cotrim

Dentes antigos revelam como os mamíferos do Sudeste Asiático responderam às mudanças climáticas

Estudo mostra que a flexibilidade alimentar foi decisiva para a sobrevivência de espécies ao longo dos últimos 150 mil anos

Um novo estudo liderado pelo Instituto Max Planck de Geoantropologia, publicado na revista Science Advances, revela como a capacidade de adaptação dos animais às alterações ambientais determinou a sua sobrevivência ou extinção no Sudeste Asiático, ao longo dos últimos 150 mil anos.

A entrada florestal da caverna Coc Muoi, localizada a cerca de 10 metros acima da planície cultivada circundante. Escondida nas colinas calcárias da província de Lang Son, no Vietname, a caverna preservou restos fósseis de mamíferos do Pleistoceno que fornecem informações vitais sobre como as espécies responderam às mudanças climáticas e ambientais do passado.Crédito: Truong Huu Nghia, Anthropological and Palaeoenvironmental Department of Vietnam’s Institute of Archaeology

A investigação analisou 141 dentes fósseis encontrados no Vietname e no Laos, datados entre 150 mil e 13 mil anos atrás. Através de uma técnica de análise isotópica — que examina elementos químicos como o carbono, o oxigénio, o azoto e o zinco presentes no esmalte dentário —, os cientistas conseguiram reconstruir com grande detalhe as dietas e habitats de espécies extintas, extirpadas (desaparecidas localmente) e ainda existentes.

“Ao analisar os vestígios químicos no esmalte dos dentes, conseguimos reconstruir dietas e ambientes antigos com uma precisão notável”, explica o investigador principal, Nicolas Bourgon. “Comparar as espécies ao longo do tempo mostra-nos porque é que algumas conseguiram sobreviver, enquanto outras desapareceram.”

Foto: Truong Huu Nghia, Anthropological and Palaeoenvironmental Department of Vietnam’s Institute of Archaeology

Os resultados são claros: as espécies mais generalistas, com dietas e habitats variados — como o javali, ou o macaco —, conseguiram adaptar-se às mudanças ambientais e persistir até aos dias de hoje. Por outro lado, os especialistas, dependentes de condições muito específicas — como o orangotango, e o rinoceronte —, foram mais vulneráveis e, em muitos casos, desapareceram da região.

Um exemplo emblemático é o orangotango, que outrora habitava grande parte do Sudeste Asiático, mas hoje está restrito a Bornéu e Sumatra. As análises isotópicas mostram que, mesmo durante períodos de mudanças ambientais significativas, estes primatas mantiveram uma forte dependência dos frutos das florestas densas.

“Embora os orangotangos modernos consigam recorrer a outros alimentos em tempos difíceis, a sua sobrevivência continua dependente de florestas intactas”, afirma a coautora Nguyen Thi Mai Huong, do Departamento de Antropologia e Paleoambiente do Instituto de Arqueologia do Vietname. “Parece que isto tem sido verdade há dezenas de milhares de anos.”

Com o Sudeste Asiático a enfrentar atualmente as taxas mais rápidas de desflorestação tropical do mundo, as conclusões deste estudo assumem uma importância particular.

“Compreender como as espécies lidaram com pressões ambientais no passado ajuda-nos a prever a sua resiliência no presente”, sublinha o Patrick Roberts, autor sénior do estudo. “É essencial conservar não apenas as espécies, mas também as condições ecológicas que as sustentam.”

Para Bourgon, a mensagem vai além da paleontologia:

“Isto não é apenas sobre animais antigos — é sobre aprender com o passado para proteger o futuro.”

Fonte: Max Planck Institute of Geoanthropology

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