Investigadores japoneses descobrem como o ouro mais fino do mundo mantém o seu brilho e durabilidade
O ouro de Kanazawa é famoso pela sua finura extrema e pelo brilho intenso. Cada folha tem apenas 100 nanómetros de espessura — cerca de 1/1.000 do diâmetro de um cabelo humano. É usado há séculos para decorar templos, santuários e obras de arte.
Embora a habilidade dos artesãos de Kanazawa tenha conquistado reconhecimento global, incluindo a designação da UNESCO como Património Cultural Imaterial em 2020, a razão científica por trás de sua espessura única permanece obscura. Até agora, ninguém sabia exatamente como os artesãos conseguiam fazer o metal tão fino e resistente.
Uma equipa do Japan Advanced Institute of Science and Technology (JAIST) descobriu agora o segredo por trás desta técnica tradicional, chamada entsuke, que consiste em martelar manualmente o ouro à temperatura ambiente.
Os investigadores usaram microscópios muito potentes para observar como os cristais de ouro se comportam durante o martelar. Descobriram que o ouro não se recristaliza, como acontece normalmente em processos industriais. Em vez disso, ativa um mecanismo raro chamado “deslizamento cristalino”, onde as pequenas partículas que compõem o metal se deslocam de uma forma especial. Este movimento permite que o metal se estique sem quebrar, formando uma textura cúbica que dá ao ouro o seu brilho e resistência.
Para perceber melhor, os cientistas compararam dois tipos de folhas de ouro: a Zumi, mais grossa, e a No. 4, mais fina. A Zumi tinha cristais desorganizados e muitas irregularidades, enquanto a No. 4 mostrava cristais bem alinhados, graças ao deslizamento cristalino que ocorre durante a martelagem.
O estudo mostra que, mesmo sem calor ou processos industriais complicados, os artesãos conseguem criar um metal ultrafino com uma estrutura muito organizada. Isto explica porque o ouro de Kanazawa é tão brilhante e durável — e ajuda a preservar esta tradição para o futuro.
Além disso, este conhecimento pode inspirar novos materiais ultrafinos para eletrónica, sensores, revestimentos decorativos ou dispositivos flexíveis, combinando finura extrema com propriedades especiais de brilho e resistência.
Como disse Yoshifumi Oshima, líder da investigação: “Aprender com técnicas artesanais centenárias pode levar a novas descobertas em ciência e tecnologia, mantendo viva a tradição do ouro de Kanazawa.”


