A Viagem pelo Clima é uma competição nacional que promove a ação climática, envolvendo cidadãos e municípios rumo à neutralidade carbónica. Usa uma moeda fictícia, o “Clima”, para avaliar escolhas sustentáveis. Jorge Cristino, administrador da Get2C, empresa de consultoria na área da sustentabilidade e alterações climáticas explica o projeto
O que é o projeto Viagem pelo Clima e como nasceu?
A viagem pelo clima é um projeto de ativação e mobilização para a ação climática que envolve cidadãos, municípios e empresas, com o objetivo contribuir para a neutralidade carbónica. Na verdade, a Viagem pelo Clima é uma competição, desenvolvida no âmbito do movimento Cooler World, criado pela Get2C, que visa informar e inspirar a população rumo à neutralidade carbónica e a uma vida mais sustentável.
Quais são os objetivos?
Criar um impacto positivo significativo nas comunidades; mobilizar a sociedade portuguesa para a urgente transição climática de forma apelativa e desafiante; incentivar os municípios portugueses no caminho da descarbonização; demonstrar como os estilos de vida individuais influenciam a pegada de carbono e hídrica, analisando o impacto das escolhas diárias em áreas como transportes, alimentação e consumo de água.
Quantas edições já fizeram e quantos participantes?
Já foram realizadas duas, sendo esta a 3.ª edição, que contou com 24 participantes, e mais de 200 inscritos, 13 municípios, 10 embaixadores e mais de 50 momentos de impacto nas comunidades.
Que balanço faz?
O balanço é extremamente positivo. Não pelos números que revelam as várias edições, mas fundamentalmente a forma como impactamos as pessoas, seja nas comunidades, mas sobretudo na vida dos participantes, pois uma viagem com estas características, durante 15 dias, torna única uma experiência cheia de desafios.
Criaram uma nova moeda, o clima, e têm de gerir o orçamento em climas. Quantos climas gastam em média?
Calcular uma média não é reveladora de um padrão, porque muitas vezes existem resultados distintos, em função da dinâmica de cada equipa. A “Viagem pelo Clima” é uma competição nacional, onde as três equipas, compostas por quatro participantes cada (com mais de 18 anos), percorrem o país, de norte a sul, de forma sustentável, e criando o maior impacto na comunidade. Desenvolve-se em 8 municípios parceiros e para medir as suas escolhas, foi criada então esta moeda fictícia o “Clima”, que avalia quatro fatores essenciais: CO₂ – Emissões associadas ao transporte e alimentação; Água – Consumo relacionado com banhos e refeições; Tempo – Tempo gasto em deslocações nos transportes e Dinheiro – Custo associado a transportes e alimentação.
Além disso, as equipas podem ganhar “Climas” através de impacto social, participando em três iniciativas, como desafios de sensibilização – Ações comunitárias para promover boas práticas, Ambientais, climate stories – Recolha e partilha de histórias inspiradoras sobre sustentabilidade e através da Rota da Sustentabilidade Municipal – Interação com negócios sustentáveis de cada território.
Qual o clima que tem mais impacto no “bolso”?
A moeda clima é uma métrica composta que junta cinco vetores interdependentes: água, CO2, tempo, dinheiro e impacto social. Estes vetores funcionam como faces da mesma moeda – não é possível olhar para um isoladamente sem afetar os outros. Não existe um “clima” com mais impacto do que outro, porque o verdadeiro impacto resulta da interação entre todos estes vetores. A força da moeda clima está precisamente em integrar estas dimensões, promovendo uma visão sistémica e justa da ação climática
Porque escolheram o tempo, dinheiro, emissões CO2 e água como os climas que contam para o orçamento?
Estas são as variáveis que de alguma forma medem uma relação de sustentabilidade entre as nossas vidas e a urgência climática.
Dizem que sustentabilidade não é apenas ambiente, então engloba o quê?
A sustentabilidade tem várias dimensões e eixos. Além da vertente ambiental, económica e social, deve também ser considerado o pilar do tempo e da felicidade e do bem-estar das pessoas. A Viagem pelo Clima aborda todos estes eixos de forma integrada, mostrando que as decisões do dia a dia — como o meio de transporte, o tempo que demora, o custo e o impacto ambiental — estão todas interligadas.Através da moeda clima, conseguimos representar essa complexidade de forma concreta: medimos não só o carbono, mas também o tempo, o custo económico e o impacto social. E as questões sociais são trabalhadas diretamente através do envolvimento ativo da comunidade, garantindo que a transição climática é participativa, justa e adaptada à realidade local. Porque sustentável não é apenas o que tem menos impacto ambiental — é o que promove equilíbrio entre planeta, pessoas, tempo e recursos.
No ano passado percorreram 8 municípios de Portugal – Mangualde, Penafiel, Matosinhos, Sesimbra, Torres Vedras, Arronches e Faro. E este ano?
Este ano estamos ainda a desenvolver um conjunto de contactos com municípios, que apesar de já termos alguns inscritos, existem muitos que ainda estão a decidir associarem-se à 3ª edição.
Porquê estes municípios?
Todos os anos convidamos todos os municípios a nível nacional a fazer parte da viagem pelo clima, e parte da aceitação e da vontade de cada um deles associarem-se ao projeto.
Criaram uma Minicop nas escolas. Consiste exatamente em quê?
A Mini-Cop é um concurso de ideias a nível nacional, onde damos a oportunidade aos mais novos em participar também nesta jornada de apresentar soluções rumo à neutralidade e à sustentabilidade. Mas, mais do que um concurso, é um espaço de debate, tal como acontece numa COP, onde cada equipa participante é desafiada a defender as suas ideias e soluções, perante os seus pares e uma audiência de júris, que vota nos projetos dos participantes finalistas.
Vão abrir novamente as inscrições no festival Greenfast… O que é preciso fazer ou ter para participar?
As inscrições na realidade fecharam e apesar de já termos inscrições suficientes, aproveitámos a parceria com o Green Fest para dar uma segunda oportunidade a quem não tenha dado o passo final de inscrição. Para isso, basta ir ao site da Viagem pelo Clima ou estar atento às nossas redes sociais este fim-de-semana e a próxima semana. As inscrições vão abrir novamente entre 11 e 20 de abril.
Há uma equipa vencedora que poderá ir à COP 30, no Brasil, pode falar sobre isso?
Todas as edições têm como prémio, à equipa vencedora, a participação na COP desse ano, com tudo pago. Notamos que este é um dos principais motivos para os inscritos e na realidade a experiência é inesquecível, pois têm a oportunidade de participar na maior conferência mundial sobre o Clima e poder ter uma visita guiada aos bastidores deste grande palco das Nações Unidas.
Como é financiado este projeto?
O financiamento desta atividade é assegurado através da participação dos municípios, pelos quais a rota da viagem pelo clima passa e onde são realizadas um conjunto de ações de sensibilização junto da comunidade, das escolas, dos empresários e dos funcionários dos municípios.
Qual a maior dificuldade?
O maior desafio é termos a adesão dos Municípios porque há um custo envolvido porque temos de pagar alojamento, viagem, alimentação e ainda a viagem à COP que tem sido em países distantes, como este ano que será no Brasil.
O que ganham os municípios em participar na Viagem pelo Clima?
Várias iniciativas de acções de formação, cálculo da pegada das empresas que identificarem e é gratuito, capacitação e mobilização e impacto dentro da cidade, envolvendo escolas, empresas e caso pretendam funcionários da câmara, ou seja, são desenhadas uma série de iniciativas no período em que as equipas estão no concelho.
Para se candidatar basta preencher o formulário entre os dias 11 e 20 de abril.
