Cascais implementou um novo sistema de recolha de Óleos Alimentares Usados com kits de solidificação que facilitam a reciclagem transformando o óleo num recurso sustentável
Luís Almeida Capão, Presidente do Conselho de Administração da Cascais Ambiente falou com o Sustentix sobre o novo sistema de recolha de Óleos Alimentares Usados (OAU), em Cascais, com solidificação do óleo, visando aumentar a reciclagem e reduzir a contaminação das águas residuais. O objetivo é alcançar 50m³ de OAU recolhido até 2025, dobrando a capacidade atual e promovendo a economia circular
De onde veio a inspiração para este novo sistema de recolha de Óleos Alimentares Usados, utilizando a solidificação?
Em Cascais estamos sempre à procura de soluções para os desafios da economia circular que sejam confortáveis para o munícipe. Sabemos, da experiência que temos com os sacos verdes para os biorresíduos, que a adesão a novos sistemas está diretamente relacionada com a facilidade de implementação das soluções em casa. Quando nos foi apresentada a solidificação do óleo percebemos que resolvia um problema que todos temos, eu também, em casa, que é o nojo. Acreditamos que esse é um fator que tem impedido a reciclagem do Óleo Alimentar Usado e que fica resolvido com este sistema. O óleo solidificado é muito mais manuseável do que o líquido, não escorre, não pinga. Os dados que o projeto-piloto já gerou apontam nessa direção.
Nos oleões abrangidos pelo piloto de solidificação dos óleos, verificou-se um aumento de 12% da quantidade total de óleo recolhido, face ao período imediatamente anterior. Antes da implementação do novo sistema, apenas 8-10% do óleo alimentar comprado e utilizado nos agregados familiares foi depositado nos equipamentos de recolha de OAU designados. Os restantes óleos alimentares usados acabavam no sistema de águas residuais ou no lixo indiferenciado, contaminando as águas residuais, dificultando o seu tratamento e aumentando os custos
Como são os kits? E como os obtêm? São feitos exatamente de que material?
Os kits são pequenas caixas de cartão reciclado com duas saquetas de pó com um agente solidificante lá dentro tem mensagens que incentivam à reciclagem de Óleos Alimentares Usados, mostrando os benefícios para a comunidade. O agente químico é um extrato de um produto vegetal. Os kits foram desenvolvidos por uma equipa multidisciplinar que inclui a Cascais Ambiente, a consultora Greencatch, a NOVA School of Business and Economics, o Departamento de Economia da Universidade de Warwick e a Behavioral Environmental Economics Team da University College of London.
Como podem as pessoas obter esse kit?
Neste momento, estamos apenas a distribuir na área do projeto-piloto, em Carcavelos e Parede.
Como funciona o novo modelo implementado? Apenas recolhem o óleo ou fazem algum tipo de tratamento antes de enviar para as empresas que o vão reaproveitar?
A par das Caixas de solidificação estamos a preparar a colocação de 100 oleões por todo o concelho, quase que duplicando a capacidade atual, através de um concurso público. Solidificado ou em estado líquido, esperamos captar, mas OAU com a maior disponibilização de equipamentos para separação. O óleo será recolhido por empresas certificadas para o efeito e o objetivo é que este OAU possa ser utilizado na produção de combustível com reduzida pegada ecológica.
Que empresas vão “receber” este óleo? Será para produzir biodiesel, inclusive falam em aviação, mas será para Portugal ou será entregue lá fora?
Portugal é consideravelmente deficitário em OAU. Existem várias fábricas de biodiesel em Portugal, sendo que o OAU recolhido em Portugal é cerca de 8% de todo o óleo comprado e usado atualmente. Sabemos que está a ser instalada uma unidade de produção de Hydrogenated Vegetable Oil (HVO/SAF), um gasóleo verde dedicado à aviação mais sustentável, de acordo com os critérios do Acordo de Paris e do Green Deal. O mercado para estas matérias-primas está a crescer e é nossa obrigação enquanto entidade responsável pela recolha de resíduos em Cascais transformar o paradigma: o OAU não é um resíduo, é um recurso. Fazemos a nossa parte a caminho da independência energética de Portugal.
Como têm sensibilizado a população?
Entregamos o kit porta-a-porta com informação sobre os benefícios da sua utilização. Da experiência que temos da recolha de biorresíduos, sabemos que a melhor forma e passar a mensagem é termos as nossas equipas, as nossas pessoas, a falar com cada um dos munícipes. As pessoas fazem toda a diferença.
E no caso das pequenas empresas, como restaurantes… também entram na vossa contabilidade para chegar aos 50 m3? Ou esse canal terá outro tipo de apoio, afinal são os que mais óleo consomem diariamente…
Os restaurantes têm um circuito de recolha que é regulado e obrigatório há bastante tempo, pelo que este tipo de solução apenas servirá para otimizar a operação da recolha doméstica.
Algo mais que deseje acrescentar.
Apenas que o novo sistema de recolha de OAU está incluída numa política abrangente de transformação da nossa forma de vermos os resíduos e o ambiente: está tudo ligado. Com este sistema influenciamos vários outros: como as águas residuais e os sistemas de distribuição, a descarbonização e até a economia.
Como vai funcionar?
Os novos contentores serão equipados com sensores de enchimento e emitem alertas para recolha, permitindo ainda geolocalização e geração de dados que serão transformados em informações para os munícipes. Todos estão equipados com painéis solares para garantir o seu funcionamento.