Se as políticas globais continuarem na sua trajetória atual, o planeta corre sério risco de ultrapassar diversos “pontos de não retorno” climáticos, segundo nova pesquisa conduzida por cientistas das universidades de Exeter (Reino Unido) e Hamburgo (Alemanha).
O estudo avaliou o risco de colapso em 16 componentes críticos do sistema terrestre – entre eles, o derretimento de grandes mantos de gelo, a morte de recifes de corais tropicais e o declínio de vastas florestas como a Amazónia.
Com base nas políticas atuais e no aquecimento global resultante, a estimativa mais conservadora dos cientistas aponta para um risco médio de 62% de ultrapassagem desses pontos críticos.
Por outro lado, trajetórias futuras mais sustentáveis – com menor emissão de gases de efeito estufa – reduzem significativamente esse risco.
O estudo também aponta que, embora certos pontos de não retorno – como o colapso da floresta amazónica e o degelo do permafrost – libertem grandes quantidades de carbono, é improvável que isso, por si só, desencadeie o colapso de outros sistemas.
“A boa notícia do nosso estudo é que ainda temos o poder de evitar esses pontos de inflexão climáticos”, afirmou Jakob Deutloff, autor principal da pesquisa. “Ao avançarmos rumo a um futuro mais sustentável, com emissões mais baixas, reduzimos consideravelmente os riscos.”
Os chamados pontos de não retorno – ou tipping points – ocorrem quando uma pequena mudança leva um sistema a uma nova configuração, provocando transformações profundas e duradouras.
“E parece que, mesmo que pontos de inflexão como o da Amazónia ou do permafrost sejam ultrapassados, isso não significa necessariamente que outros serão também.”
A equipa analisou cinco cenários distintos de desenvolvimento global, conhecidos como caminhos socioeconómicos compartilhados (SSPs, na sigla em inglês), para estimar a probabilidade de ocorrência desses colapsos.
“Os pontos de inflexão climáticos podem ter consequências devastadoras para a humanidade”, alertou o professor Tim Lenton, do Instituto de Sistemas Globais da Universidade de Exeter. “Está claro que seguimos por uma trajetória perigosa – e é provável que esses pontos sejam ultrapassados se não mudarmos de rumo rapidamente.”
“Precisamos de uma ação global urgente – inclusive o desencadeamento de ‘pontos de inflexão positivos’ em nossas sociedades e economias – para alcançar um futuro seguro e sustentável.”
Probabilidades de desencadear os TPs no SSP1-2.6 para o caso de desencadeamento de equilíbrio, desencadeamento instantâneo e desencadeamento instantâneo, incluindo o aquecimento adicional de TPs de carbono.
Fonte: University of Exeter, in EcoDebate