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Esta planta atrai carraças aumentando o risco de doenças

A presença de fetos em jardins e zonas verdes, habitualmente valorizada pelo seu aspeto ornamental e facilidade de crescimento à sombra, pode estar a contribuir involuntariamente para a proliferação de carraças, um dos parasitas mais preocupantes em termos de saúde pública. A descoberta, recentemente divulgada por investigadores europeus, está a motivar um novo olhar sobre a gestão de vegetação em ambientes residenciais e naturais.

Segundo um artigo publicado na Meteored Espanha, os fetos (Pteridophyta) libertam compostos voláteis como terpenos e ácidos fenólicos, que funcionam como verdadeiros “atrativos químicos” para as carraças. Estes parasitas, que se guiam por estímulos olfativos e térmicos, encontram ainda nas folhas densas e húmidas dos fetos um ambiente ideal para se esconderem e aguardarem a passagem de um hospedeiro.

“Os fetos podem estar a desempenhar um papel ecológico importante na proliferação de carraças em climas temperados e húmidos, criando micro-habitats propícios à sua sobrevivência e reprodução.”, explica o artigo da Meteored.

A preocupação vai além da jardinagem. “As carraças são vetores de doenças como a Borreliose de Lyme e a febre escaro‑nodular. A Doença de Lyme é de declaração obrigatória em Portugal desde 1999, com uma média de cerca de 35 casos confirmados por ano entre 1999 e 2004, embora se acredite que haja subnotificação. Os casos concentram‑se maioritariamente nas regiões Norte e Centro, com picos sazonais entre Maio e Setembro. Já a febre escaro‑nodular regista, em 2015, uma taxa de incidência de cerca de 1,3/100 000 habitantes (decrescendo para 0,9/100 000 em 2016), segundo dados da DGS/INE.”

@Envato Elements

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também alerta para o aumento global do número de doenças transmitidas por carraças, sublinhando que alterações no uso do solo, mobilidade humana e mudanças climáticas são fatores de risco crescentes.

Alterações climáticas e o papel dos fetos

O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) sublinha que as mudanças nos padrões de temperatura e precipitação estão a alargar o habitat de muitas espécies, incluindo parasitas. Com temperaturas mais elevadas e humidade persistente em diversas regiões da Europa, as carraças estão a colonizar novas áreas – e os fetos estão a acompanhá-las.

Além disso, habitats ricos em fetos tendem a atrair mamíferos de pequeno e médio porte (como roedores e veados), conhecidos por serem hospedeiros naturais das carraças. Este efeito cascata cria um ecossistema favorável à sua propagação, aumentando o risco de contacto humano e animal com os parasitas.

Espécies de carraças em Portugal

  • Estão identificadas 22 espécies de carraças da família Ixodidae (a mais perigosa) no território português, com maior presença em zonas rurais e periurbanas, segundo um artigo publicado no Hospital da Luz. As mais comuns em Portugal são, segundo o artigo do Hospital da LUZ:
  • a) Rhipicephalus sanguineus – a mais importante, representa cerca de 75,6% e está distribuída por todo o país. Também é conhecida como carraça do cão, já que são estes os seus hospedeiros principais. As carraças adultas têm mais atividade entre março e outubro e as forma imaturas em agosto. Sobrevive facilmente em climas secos. Uma carraça põe cerca de 3-5 mil ovos de uma vez. Entre os microrganismos que pode transmitir estão os que causam a febre escaro-nodular;
  • b) Ixodes ricinus – representa cerca de 10,5% e está distribuída por todo o país. As carraças adultas têm mais atividade entre outubro e abril e as forma imaturas nos meses de primavera e verão. Prefere zonas de humidade relativa elevada. Geralmente as fêmeas não põem mais de 3 mil ovos. É o principal vetor da bactéria que causa a borreliose de Lyme;
  • c) Dermacentor marginatum – representa cerca de 4,2% e está distribuída por todo o país. As carraças adultas têm mais atividade entre agosto e outubro e as forma imaturas em agosto e setembro. Pode transmitir a bactéria Rickettsia slovaca;
  • D) Hyalomma marginatum – representa cerca de 2% e está distribuída por todo o país. As carraças adultas têm mais atividade entre março e outubro e as forma imaturas no outono. Pode transmitir o vírus da febre hemorrágica da Crimeia-Congo;
  • E) Dermacentor reticulatus – representa cerca de 1% e existe na região norte país. As carraças adultas têm mais atividade entre março e outubro e as forma imaturas em agosto. Pode transmitir a bactéria causadora da febre Q;
  • F) Hyalomma lusitanicum – representa cerca de 0,7% e existe no sul do país. As carraças adultas e as forma imaturas têm mais atividade entre março e outubro. Tem capacidade de transmitir o vírus da febre hemorrágica da Crimeia-Congo e outras bactérias do género Rickettsia.
  • Uma fêmea adulta pode chegar a depositar entre 2 000 e 20 000 ovos, e algumas espécies reproduzem-se duas vezes por ano, refere um artigo do Correio da Manhã.

Como tudo se passa?

As carraças tal como outros organismos passam por várias etapas ao longo da sua vida. Há uma metamorfose de larva para ninfa e de ninfa para adulto, mas para isto acontecer necessitam de sangue, então começa a luta desenfreada por hospedeiros. Assim que escolhem a vítima, picam-na. Podem ficar presas para se alimentar até duas semanas, depois vão à sua vida para colocar ovos, mas até lá já podem ter feito estragos na sua saúde.

Como reduzir o risco no seu espaço exterior

Não é necessário eliminar completamente os fetos do jardim, mas os especialistas aconselham a ter precauções, especialmente em zonas frequentadas por crianças e animais de estimação. Algumas medidas preventivas incluem:

  • Podar regularmente os fetos e limitar a sua presença em zonas de passagem;
  • Usar repelentes adequados na pele e em animais de companhia;
  • Inspecionar o corpo, cabelo e roupa após caminhadas ou brincadeiras em áreas com vegetação densa;
  • Manter o jardim limpo, sem acumulação de folhas secas ou humidade excessiva.
  • Vista roupa adequada sem pele exposta, como mangas compridas, botas com meias e de preferência que consiga colocar as calças para dentro das botas.
  • Roupa clara também ajuda a detetar o “inimigo”.
  • Usar trilhos que já sejam utilizados por outras pessoas, caso decida ir para o campo.

Conhecer o jardim é proteger a saúde

Esta nova relação identificada entre fetos e carraças demonstra como uma planta aparentemente inofensiva pode estar no centro de uma complexa teia ecológica com impacto direto na saúde humana. Num contexto de alterações ambientais e aumento de doenças transmitidas por vetores, a prevenção começa no conhecimento — até nas escolhas que fazemos no jardim de casa.

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