Um grupo de paleontólogos da Universidade de Flinders, na Austrália, descobriu novas pistas sobre a evolução dos cangurus e “wallabies”, dois dos marsupiais mais emblemáticos do continente. A investigação, publicada na revista Royal Society Open Science, analisou os membros de uma espécie extinta — o Dorcopsoides fossilis — considerada o antepassado direto dos cangurus modernos.

Dr. Isaac Kerr
Os investigadores concentraram-se nos fósseis encontrados no campo fossilífero de Alcoota, no sul do Território do Norte. Esta área é conhecida pela sua riqueza paleontológica e, segundo o estudo, guarda os vestígios do mais antigo “verdadeiro” canguru conhecido.
O Dorcopsoides fossilis viveu há cerca de sete milhões de anos, durante o final do Miocénico, uma época marcada por profundas alterações ambientais. À medida que o centro da Austrália perdia as suas florestas tropicais e se tornava mais árido, os cangurus começaram a adaptar-se a terrenos abertos e secos — uma mudança que viria a moldar a sua evolução.
“Pela primeira vez analisámos todos os ossos dos membros fossilizados e comparámo-los com os de espécies atuais, para compreender melhor a evolução dos cangurus”, explicou o paleontólogo Isaac Kerr, autor principal do estudo e investigador do Laboratório de Paleontologia da Universidade de Flinders.
Segundo Kerr, o D. fossilis partilhava características com os atuais “wallabies-da-floresta”, ainda hoje existentes na Nova Guiné, mas apresentava também traços típicos dos grandes cangurus, como o cinzento. Estas semelhanças sugerem que já possuía uma capacidade de salto mais poderosa e eficiente, uma vantagem essencial num ambiente em transformação.
“Estas características indicam que o D. fossilis estava parcialmente adaptado a habitats abertos e secos, capaz de se deslocar com rapidez e eficiência em busca de alimento”, acrescentou o investigador.
O estudo fornece assim a primeira evidência direta de uma adaptação dos cangurus a ambientes áridos durante o final do Miocénico, reforçando dados genéticos e fósseis anteriores sobre a diversificação do grupo conhecido como macropodíneos — que inclui todos os cangurus e wallabies modernos, à exceção do pequeno wallaby-listrado (Lagostrophus fasciatus).
O coautor do estudo, professor Gavin Prideaux, sublinha que esta descoberta “reforça a compreensão sobre o momento e o modo como os cangurus se tornaram dominantes na paisagem australiana”.
Quanto ao aspeto do Dorcopsoides fossilis, Kerr descreve-o como “um parente maior e de pernas mais longas dos atuais wallabies-da-floresta, com o rosto fino e expressivo e uma cauda curva que apenas tocava o solo na extremidade”.
O artigo, intitulado “Limb osteology and functional morphology of the extinct kangaroo Dorcopsoides fossilis (Macropodinae, Marsupialia) from Late Miocene central Australia”, foi publicado na Royal Society Open Science (DOI: 10.1098/rsos.251591).
Fontes:
- Flinders University
- Royal Society Open Science
- Australian Research Council
- Australia and Pacific Science Foundation

