O popular “smashed avo” – presença habitual em brunches e pequenos-almoços – pode vir a depender menos da moda e mais de… insetos. Uma nova investigação da Universidade Curtin, na Austrália, revelou que pequenas manchas de vegetação nativa ao lado dos pomares de abacate desempenham um papel essencial para manter saudáveis os insetos que polinizam estas culturas.

Pomares de abacate foram amostrados na região de Pemberton-Manjimup, na Austrália Ocidental, adjacentes a pastagens ou vegetação natural. Crédito: Universidade Curtin
O estudo, liderado por Joshua Kestel e publicado esta semana, descobriu que os insetos encontrados em pomares vizinhos de vegetação natural recolhem pólen de mais do dobro das espécies de plantas durante os períodos em que os abacateiros têm poucas flores, comparando com os insetos de pomares rodeados apenas por pastagens.
Esta diversidade alimentar é vital para a sobrevivência das comunidades de insetos, que, por sua vez, são fundamentais para a polinização das culturas agrícolas. Um dado preocupante reforça a urgência do tema: até 2050, será necessário alimentar cerca de 10 mil milhões de pessoas, o que exigirá um aumento da produtividade agrícola entre 25 e 75%.
Segundo o investigador principal, Joshua Kestel, o mais interessante no estudo é a metodologia inovadora usada para recolher os dados: “Usámos uma técnica de ponta desenvolvida na Curtin chamada metabarcoding de DNA ambiental (eDNA), aplicada a armadilhas para insetos. Assim, conseguimos identificar a diversidade de pólen transportado por comunidades inteiras de insetos”.
Este método permite detetar até um grão de pólen ou o rasto de uma abelha – uma ferramenta poderosa para compreender melhor os comportamentos de forrageamento dos insetos e o seu papel nos ecossistemas agrícolas.
Para Paul Nevill, coautor do estudo e professor associado na Escola de Ciências Moleculares e da Vida da mesma universidade, o impacto vai além da ciência pura: “Os insetos polinizam 75% das culturas agrícolas, mas muitos estão em risco de desaparecer. Só na Austrália, estima-se que existam cerca de 320.000 espécies de insetos, mas apenas 35% foram formalmente identificadas. Muitas dependem de plantas que ainda não conhecemos.”
Durante a investigação, a equipa recolheu mais de 2.000 insetos e identificou, a partir do DNA ambiental, mais de 250 espécies de plantas, entre culturas agrícolas, plantas nativas e até algumas ervas daninhas.
Os investigadores recomendam agora que se integrem inquéritos padronizados de biodiversidade nos programas regulares de monitorização agrícola, que se reconheça o valor da vegetação natural e que se revegetem as zonas não cultivadas nos pomares.
O estudo completo, intitulado “Environmental DNA metabarcoding reveals complex interactions between natural capital in orchards: Insights into arthropod community dynamics and foraging diversity”, foi publicado na revista Environmental and Sustainability Indicators – e pode muito bem ser uma leitura essencial para quem se preocupa com a agricultura… e com o brunch.