Um fenómeno raro e impressionante surpreendeu um pescador experiente ao largo da costa da província de Newfoundland e Labrador, no Canadá. Um iceberg completamente preto foi avistado a cerca de seis quilómetros da costa, em pleno auge da temporada de “alamedas de icebergs”, quando enormes blocos brancos oriundos do Ártico descem até às águas do Atlântico Norte durante a primavera e o verão.

Hallur Antoniussen, de 64 anos, natural das ilhas Faroé está habituado a navegar entre os gigantes gelados, mas ficou estupefacto com o que viu. “Já vi blocos de gelo com pedras incrustadas, mas este era diferente. Era totalmente preto, com um formato quase de diamante”, relatou em entrevista à estação de rádio CBC News.
A presença de um iceberg escuro não só é visualmente impactante, como também cientificamente intrigante. Segundo a ciência, a coloração invulgar pode dever-se a impurezas aprisionadas no gelo há milhares de anos — como cinzas vulcânicas, detritos de rochas ou fuligem de incêndios florestais antigos — ou ainda ao resultado de um impacto meteorítico.
Outra hipótese levantada por glaciologistas é o fenómeno de rotação do iceberg, que pode ter exposto camadas mais profundas e antigas, anteriormente submersas. Até porque os icebergs costumam ser brancos devido às bolhas de ar que refletem a luz.
“Já observei pequenos icebergs escuros na costa da Gronelândia, mas nada desta magnitude”, afirmou o glaciologista Lev Tarasov, da Memorial University of Newfoundland, em declarações à CBC News. “É possível que este iceberg tenha sofrido uma inversão, revelando uma ‘barriga’ suja composta por gelo comprimido há centenas de milhares de anos, que normalmente permanece escondido sob a superfície.”
Qual será a ponta do iceberg?
O aparecimento deste iceberg preto reacende o interesse da comunidade científica sobre os efeitos das alterações climáticas no degelo polar e na movimentação de massas glaciares. Nos últimos anos, a frequência e a variedade de formações de gelo têm aumentado, levantando questões sobre as mudanças profundas nos sistemas climáticos do hemisfério norte.
A raridade do fenómeno também atraiu a atenção de curiosos e investigadores, muitos dos quais consideram o iceberg um verdadeiro “fóssil flutuante”, uma cápsula do tempo com potencial para revelar informações sobre períodos remotos da história da Terra.
Para já, continua à deriva nas águas frias do Atlântico Norte, um colosso escuro entre as torres brancas, desafiando explicações simples e despertando o fascínio de todos quantos o avistam.