A caça furtiva continua a ameaçar gravemente os rinocerontes: segundo a International Rhino Foundation, é abatido, em média, um rinoceronte a cada 15 horas. Apesar das medidas agressivas de combate à caça furtiva, a população global destes animais continua em declínio.
O economista da Wake Forest University, Fred Chen, estuda há várias décadas os impactos da caça furtiva de chifres de rinoceronte e propõe uma solução baseada na economia para proteger estes animais. O seu trabalho analisa os resultados de esforços defensivos, como realocação de animais, patrulhas anti-caça furtiva, rastreadores GPS, corte de chifres, drones, cães e ações legais, e sugere que uma abordagem preventiva, focada na redução da procura por chifres, pode ser mais eficaz.
O seu livro, “The Economics of the Wildlife Trade” (2026), escrito em colaboração com Michael ‘t Sas-Rolfes, da Universidade de Oxford, explora os mercados da vida selvagem e as forças económicas que os regem. Segundo Chen, “os esforços de conservação tendem a proteger os animais dos caçadores furtivos, em vez de eliminar o desejo de os caçar. No fim, a conservação é um problema económico.”
Ao aplicar a lógica da oferta e da procura à conservação, é possível avaliar o efeito de várias políticas. Por exemplo, o corte dos chifres ofereceu apenas uma solução temporária em algumas reservas, uma vez que os caçadores adaptaram-se rapidamente, matando mesmo animais desprovidos de chifres para obter os tocos. Chen alerta que “cortar os chifres não é uma solução de longo prazo e os cientistas desconhecem como isso afeta o comportamento dos rinocerontes, sendo que os chifres voltam a crescer.”
Chen defende que soluções duradouras exigem um diálogo mais intenso entre economistas e conservacionistas, o que poderá implicar uma mudança fundamental na formação destes profissionais.
A questão da caça furtiva será abordada na CITES CoP20 World Wildlife Conference, a maior conferência mundial sobre comércio internacional de vida selvagem, que decorre de 24 de novembro a 5 de dezembro. A agenda deverá incluir a revisão e potencial reformulação das estratégias defensivas tradicionais.
Apesar de serem feitos de queratina — como as unhas humanas —, os chifres de rinoceronte são alvo de concepções erradas em alguns países asiáticos, que lhes atribuem valor medicinal. O elevado preço no mercado negro faz também com que sejam um símbolo de estatuto.
O comércio ilegal de chifres de rinoceronte, marfim de elefante e produtos de tigre é altamente lucrativo: segundo o UNODC World Wildlife Crime Report 2024, o valor anual deste comércio ronda os 20 mil milhões de dólares, colocando o crime contra a vida selvagem entre os mais rentáveis do mundo. Apesar das dificuldades em quantificar os lucros devido à natureza ilegal do comércio, estima-se que os mercados negros movimentem quantias enormes.
Chen conclui que “estes desafios são complexos e exigem conhecimento que vai para além do Econ 101. O objetivo do nosso livro não é ensinar economia à comunidade de conservação, mas criar uma ponte entre economia e conservação através do diálogo.”


