Um novo estudo publicado na revista Nature Human Behaviour demonstra que os orangotangos dependem de aprendizagem social para desenvolver a complexa dieta necessária à sobrevivência na vida adulta. A investigação, conduzida durante 12 anos na Sumatra, mostra que a transmissão cultural — sobretudo entre mães e crias — tem um papel decisivo no conhecimento alimentar destes primatas.
A importância de aprender com os outros
Ao contrário da ideia de que os animais aprendem principalmente por tentativa e erro, o estudo revela que os jovens orangotangos observam intensamente as suas mães para descobrir centenas de alimentos diferentes disponíveis na floresta, desde frutos e folhas a insetos. Muitas destas fontes alimentares exigem técnicas específicas para serem consumidas, como o uso de paus para extrair térmitas ou a manipulação de frutos difíceis de abrir.
Os investigadores identificaram três formas principais de aprendizagem:
- Seguir a mãe pela floresta, o que garante acesso constante a novas fontes alimentares.
- Alimentar-se perto de adultos, o que aumenta a probabilidade de experimentação.
- Observar atentamente o comportamento da mãe, um processo chamado “peering”, frequentemente seguido pela tentativa de imitação.
Ciência com recurso a simulação
Para perceber até que ponto estes comportamentos influenciam o desenvolvimento das crias, os investigadores criaram um modelo computacional baseado em dados reais recolhidos no terreno. O modelo simulou a vida de jovens orangotangos até aos 15 anos de idade.
Quando os mecanismos de aprendizagem social estavam presentes, a maior parte dos orangotangos virtuais conseguia, por volta dos 8 anos, dominar uma dieta praticamente idêntica à dos adultos. Sem observação direta nem contacto próximo com a mãe, os resultados eram muito diferentes: quase nenhum simulava atingir o nível de conhecimento necessário antes de se tornar independente.

Cultura não é só humana
O estudo reforça a ideia de que a cultura não é exclusiva da nossa espécie. Embora os orangotangos não apresentem cultura acumulativa ao nível humano — em que o conhecimento é continuamente aperfeiçoado ao longo das gerações — dependem claramente da transmissão social para alcançar uma dieta que dificilmente conseguiriam aprender sozinhos.
A investigação indica que o repertório alimentar dos orangotangos é demasiado amplo para ser descoberto apenas por exploração individual, o que coloca estes primatas entre as espécies em que a cultura desempenha um papel fundamental para a sobrevivência.
A selva como escola
Na densa floresta tropical da Sumatra, aprender o que é seguro, nutritivo e disponível em cada estação pode determinar o futuro de um jovem orangotango. E tal como nos humanos, esse conhecimento não nasce de forma isolada — é ensinado, observado e partilhado, passando de geração em geração.



