Todos os beija-flores lutam, mas a maioria das espécies disputa comida, usando os seus pequenos corpos e bicos afiados para afastar competidores das flores. O beija-flor-verde, que habita principalmente as florestas montanhosas da América Central e do Sul, distingue-se por lutar para conquistar uma parceira.
“Reúnem-se num local da floresta que se parece com um bar para solteiros,” explica Alejandro Rico-Guevara, professor associado de biologia na Universidade de Washington. “Cada um tem um poleiro, e se outro pássaro tomar o seu lugar — o seu poleiro no ‘bar’ — eles enlouquecem e começam a lutar.”
O instrumento de combate? Os próprios bicos. Tal como cavaleiros medievais num torneio, os beija-flores levantam o longo e fino bico antes de o cravar no adversário. O risco é elevado: usam o bico para se alimentar, espetando-o nas flores para alcançar o néctar nutritivo. Perder uma luta pode significar não encontrar parceira, e quebrar o bico pode significar fome.
Uma investigação recente, liderada por investigadores do Museu Burke de História Natural e Cultura da UW, onde Rico-Guevara é curador de aves, concluiu que estas lutas moldaram a evolução da espécie, criando diferenças significativas na forma do bico entre machos e fêmeas. Comparados com as fêmeas, os machos têm bicos mais direitos, mais afiados e estruturalmente mais fortes. A forma mais recta funciona melhor como arma, enquanto os bicos das fêmeas, mais curvos, facilitam o acesso ao néctar de certas flores. Estes resultados sugerem que o dimorfismo sexual do bico — quando os dois sexos de uma espécie apresentam características diferentes — é impulsionado pelas lutas e não apenas por fatores ecológicos.
“Os machos adultos têm bicos reforçados porque lutam muito,” afirma Rico-Guevara. “É a mesma ferramenta, mas usada de formas muito diferentes. Este é um exemplo do que ainda podemos aprender com o dimorfismo sexual na natureza.”
No estudo, publicado a 10 de novembro no Journal of Experimental Biology, os investigadores selecionaram exemplares de beija-flor-verde da Colecção de Ornitologia do Museu Burke e usaram fotogrametria para criar modelos 3D dos bicos de machos e fêmeas. Através da análise da curvatura e do ângulo dos modelos, concluíram que os bicos dos machos são 3% mais direitos e 69% mais afiados, com uma ponta em forma de adaga não encontrada nos bicos das fêmeas.
Mas as diferenças vão além da forma do bico. Tomografias computorizadas revelaram que a estrutura interna do bico masculino fornece força adicional, transmitindo a pressão de forma mais eficiente.
Finalmente, os investigadores simularam várias perfurações para testar os bicos em ataques frontais e angulados. Observaram que o bico do macho consome 52,4% menos energia devido à deformação e é mais resistente a partir-se. Em média, o bico masculino sofre 39% menos stress do que o da fêmea.
Além disso, a forma mais recta do bico masculino permite uma maior variedade de ângulos de ataque, exigindo menos precisão durante a luta.
“É um exemplo fascinante de armas sexualmente dimórficas em aves,” afirma Lucas Mansfield, estudante de doutoramento na Michigan State University e co-autor do estudo. “Quando pensamos em armas dimórficas, pensamos normalmente em veados ou alces com grandes galhadas. Não existem muitos exemplos assim no mundo das aves. É divertido explorar uma arma mais discreta ou escondida.”
Os co-autores incluem Felipe Garzón-Agudelo, do Centro de Investigação Colibrí Gorriazul na Colômbia, e Kevin Epperly, Gestor das Colecções de Ornitologia no Museu Burke da UW. A investigação foi financiada pela Cátedra Walt Halperin no Departamento de Biologia da UW e pela Washington Research Foundation.


