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Mel de abelha nativa australiana mostra potencial medicinal no combate à resistência a antibióticos

Uma investigação liderada por Kenya Fernandes, da Universidade de Sydney, revelou propriedades antimicrobianas notáveis no mel produzido por três espécies de abelhas nativas australianas sem ferrão — Tetragonula carbonaria, Tetragonula hockingsi e Austroplebeia australis.

Colmeias de abelhas nativas australianas Tetragonula carbonaria. Crédito: Universidade de Sydney

Os resultados, publicados na prestigiada revista Applied and Environmental Microbiology, destacam o potencial deste mel como uma alternativa natural e sustentável aos antibióticos sintéticos, num momento em que a resistência antimicrobiana representa uma ameaça crescente à saúde global.

Conhecido localmente como “mel de sugarbag”, este produto natural já era tradicionalmente utilizado pelas comunidades indígenas australianas como alimento e remédio para doenças da pele, como comichões e feridas. No entanto, até agora pouco se sabia sobre a sua eficácia médica do ponto de vista científico.

O estudo demonstrou que o mel destas abelhas nativas mantém a sua atividade antimicrobiana mesmo após ser submetido a tratamentos térmicos e após longos períodos de armazenamento — uma vantagem significativa em relação ao mel produzido pela abelha europeia (Apis mellifera), que depende em grande parte do peróxido de hidrogénio para a sua ação antimicrobiana.

Segundo Kenya Fernandes, “face ao crescente desafio médico da resistência antimicrobiana, os nossos resultados indicam que o mel de abelhas sem ferrão pode complementar, ou até substituir, os antibióticos sintéticos”.

Uma das descobertas mais surpreendentes foi que, mesmo após a remoção do peróxido de hidrogénio, o mel continuava a apresentar atividade antimicrobiana. Isto sugere que os compostos antimicrobianos estão intrinsecamente presentes no mel em si, e não apenas dependentes das fontes de néctar.

“A atividade antimicrobiana do mel de Manuka, por exemplo, provém principalmente de plantas do género Leptospermum. No caso do mel das abelhas nativas australianas, essa atividade mantém-se constante mesmo com origens florais variadas, o que indica que há algo de especial nas próprias abelhas”, explicou a investigadora.

A consistência dessa atividade foi também destacada pela coautora, Dee Carter: “Descobrimos que a atividade antimicrobiana se mantém uniforme em todas as amostras de mel sugarbag testadas, ao contrário do mel de abelha europeia, que pode variar bastante com as estações e as flores disponíveis”.

Apesar do elevado potencial, a produção do mel ainda representa um desafio logístico. Cada colmeia de abelhas sem ferrão produz cerca de meio litro de mel por ano — uma quantidade reduzida comparativamente às abelhas europeias. No entanto, conforme salientou Ros Gloag, estas colmeias requerem pouca manutenção, permitindo a gestão de um maior número de colónias com menos esforço. Com incentivos adequados, como o reconhecimento do seu valor comercial, é possível aumentar a produção e criar um mercado especializado.

Um passo importante nesse sentido foi dado no ano passado, quando o mel de abelha nativa recebeu aprovação da Food Standards Australia New Zealand, abrindo portas à sua comercialização a nível nacional e internacional.

Além da sua eficácia, a estabilidade da atividade antimicrobiana ao longo do tempo e a baixa probabilidade de desenvolvimento de resistência microbiana — um problema recorrente com antibióticos sintéticos — tornam este mel um candidato promissor para aplicações médicas futuras.

Os investigadores pretendem agora aprofundar o estudo da atividade antimicrobiana não-peróxida, para identificar os seus compostos e compreender melhor o seu mecanismo.

“Embora ainda não tenhamos testado estes méis contra bactérias resistentes a medicamentos, a presença de múltiplos fatores antimicrobianos reduz significativamente a probabilidade de resistência”, concluiu Fernandes, que é também investigadora DECRA do Conselho de Investigação Australiano, membro do Sydney Infectious Diseases Institute e do Centre for Drug Discovery Innovation.

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