#PorUmMundoMelhor

Rui Francisco

O impacto das tarifas e da guerra comercial na sustentabilidade

A sustentabilidade empresarial está diretamente ligada a cadeias de abastecimento globais, acesso a matérias-primas e custos operacionais. Neste contexto, as tarifas aduaneiras e as guerras comerciais podem representar um desafio significativo para as empresas que tentam implementar práticas sustentáveis. Abaixo, analisamos três formas principais como estas disputas podem afetar a sustentabilidade empresarial e ambiental.

Aumento dos Custos de Produção e Menos Investimento Sustentável

Os Estados Unidos estão a introduzir novas tarifas sobre matérias-primas e serviços, particularmente em setores estratégicos como energia, tecnologia e metais raros. Sob a legislação da Organização Mundial do Comércio (OMC), os países afetados por estas medidas têm o direito de aplicar tarifas retaliatórias do mesmo nível, intensificando as tensões comerciais globais. Embora estas tarifas possam reduzir o consumo de bens importados e aumentar a receita fiscal, também criam um efeito colateral preocupante: desviam fundos e capital de investimentos verdes, tornando mais difícil para empresas e governos financiarem projetos de sustentabilidade, como a transição energética e a inovação ambiental.

Ao suportarem tarifas elevadas sobre bens importados, as empresas enfrentam custos adicionais para adquirir matérias-primas e componentes essenciais. Como resultado:

  • menos recursos disponíveis para investir em práticas sustentáveis, como eficiência energética e economia circular.
  • O custo de produtos sustentáveis pode aumentar, tornando-os menos competitivos em comparação com alternativas mais baratas e menos ecológicas.
  • Pequenas e médias empresas (PME) podem ter dificuldade em financiar a transição para cadeias de abastecimento sustentáveis, devido ao aumento da carga fiscal sobre importações.

Por exemplo, uma empresa que pretende utilizar painéis solares importados para reduzir sua pegada de carbono pode enfrentar tarifas adicionais, tornando o investimento menos viável financeiramente.

Disrupção nas Cadeias de Abastecimento e Maior Pegada de Carbono

As guerras comerciais frequentemente levam à realocação das cadeias de produção, gerando impactos ambientais negativos. Empresas que anteriormente obtinham matérias-primas ou componentes de mercados próximos podem ser forçadas a recorrer a fornecedores mais distantes, o que aumenta as emissões de carbono devido ao transporte.

Além disso, as restrições ao comércio global podem incentivar a produção em países com regulamentação ambiental mais fraca, resultando em práticas menos sustentáveis. Algumas empresas, por sua vez, podem optar por produzir internamente bens que antes importavam, mas com menor eficiência energética e maiores impactos ambientais.

Um exemplo claro ocorreu durante a guerra comercial entre os EUA e a China, quando muitas empresas norte-americanas passaram a obter metais raros de fornecedores alternativos, aumentando significativamente os custos e as emissões associadas ao transporte.

Dificuldade no Acesso a Tecnologia e Inovação Sustentável

Muitas inovações sustentáveis dependem da colaboração global e do acesso a tecnologia, mas as barreiras comerciais podem dificultar esse processo. Empresas perdem a oportunidade de utilizar tecnologias verdes inovadoras que poderiam contribuir para a redução de emissões e a melhoria da eficiência energética.

Além disso, projetos internacionais de pesquisa e desenvolvimento (P&D) em sustentabilidade podem ser comprometidos devido à falta de acesso a componentes essenciais ou a restrições na exportação de conhecimento técnico. A instabilidade causada pelas guerras comerciais também pode levar as empresas a adiar investimentos em inovação, priorizando a gestão de riscos e custos.

Um exemplo claro é o setor de baterias para veículos elétricos, onde as dificuldades na obtenção de metais raros, causadas por barreiras comerciais, atrasam o desenvolvimento de alternativas mais sustentáveis.

Como Minimizar o Impacto?

Para evitar que as tarifas aduaneiras e as guerras comerciais comprometam a sustentabilidade, as empresas podem adotar diversas estratégias. A diversificação da cadeia de fornecimento, por exemplo, permite reduzir a dependência de um único país ao procurar fornecedores sustentáveis em diferentes regiões.

O investimento em produção local sustentável também se revela uma alternativa eficaz, criando soluções regionais com baixa pegada de carbono e certificações ambientais. Além disso, estabelecer parcerias estratégicas com governos e entidades internacionais pode minimizar barreiras e promover um comércio mais sustentável.

A eficiência operacional, por sua vez, é essencial para reduzir desperdícios e otimizar processos, compensando assim os custos adicionais gerados pelas tarifas. No final, embora as tarifas aduaneiras e as disputas comerciais possam representar desafios à sustentabilidade, elas também podem impulsionar a inovação e fomentar novos modelos empresariais mais resilientes e sustentáveis.

 A economia circular surge como uma solução essencial para mitigar os impactos das tarifas aduaneiras e das guerras comerciais, ao promover a otimização de processos e a reutilização de recursos. Em vez de depender exclusivamente da extração de novas matérias-primas, as empresas podem adotar estratégias como reciclagem de materiais, reaproveitamento de resíduos industriais e extensão do ciclo de vida dos produtos. Estas práticas não só reduzem custos e a dependência de fornecedores externos, como também minimizam a pegada ambiental da produção. A implementação de processos mais eficientes permite que as empresas façam mais com menos, tornando-se mais competitivas num mercado global instável.

Além disso, a criação de redes locais de fornecedores desempenha um papel fundamental na transição para uma economia circular e na resiliência empresarial. Ao fortalecer cadeias de abastecimento locais, as empresas reduzem a vulnerabilidade a flutuações cambiais, atrasos logísticos e barreiras comerciais. Essa abordagem estimula também a inovação regional, impulsiona a economia local e reduz as emissões associadas ao transporte de mercadorias. Estabelecer parcerias estratégicas com fornecedores próximos pode garantir maior estabilidade, previsibilidade de custos e conformidade com padrões ambientais, transformando desafios comerciais em oportunidades sustentáveis.

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