Cientistas da Universidade de Calgary descobriram a origem de uma misteriosa mancha cinzenta e esbranquiçada que aparece no céu noturno durante a aurora boreal. Identificada como uma “emissão contínua estruturada”, essa formação pode ser uma nova fonte de calor associada ao fenómeno. A pesquisa, publicada na Nature Communications, revela que a aurora é mais complexa do que se imaginava
Uma mancha cinzenta e esbranquiçada que por vezes aparece no céu noturno juntamente com a aurora boreal foi explicada pela primeira vez por investigadores da Universidade de Calgary. O artigo, publicado em dezembro na revista Nature Communications, explora uma “emissão contínua estruturada” que está associada à aurora boreal
“Vemos esta aurora verde dinâmica, vemos alguma da aurora vermelha mais ao fundo e, de repente, aparece esta emissão estruturada — quase como uma mancha — de tons cinzentos ou brancos ligada à aurora”, afirma Emma Spanswick, autora principal do artigo e professora associada do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências.
Por isso, a primeira reação de qualquer cientista é: “O que é isto?” Emma Spanswick conta que a mancha branca já tinha sido referida em artigos científicos, mas nunca tinha sido explicada. A sua equipa conclui que se trata “certamente de uma fonte de calor” e sugere que a aurora boreal é mais complexa do que se pensava.
A investigadora diz que a descoberta foi possível porque as novas câmaras permitem que tanto os fotógrafos amadores como os cientistas vejam imagens a cores e reais do céu noturno. “Toda a gente já reparou no avanço da fotografia digital. Até um telemóvel pode agora tirar fotografias da aurora”, afirma. “Isso passou para o mercado dos sensores comerciais, que são mais robustos do que os que utilizaríamos na ciência”.
A investigação da equipa surgiu na sequência de um interesse renovado na emissão contínua, com a descoberta e observação da longa e brilhante faixa de luz púrpura conhecida por STEVE — ou Strong Thermal Emission Velocity Enhancement. “Há semelhanças entre o que estamos a ver agora e o STEVE”, explica, continuando. “Este manifesta-se como uma estrutura de tons malva (rosa e roxo) ou cinzentos”.
A investigadora admite ainda: “para ser sincera, a elevação do espetro entre os dois é muito semelhante, mas este, devido à sua associação com a aurora dinâmica, está quase incorporado nela. É mais difícil de detetar se olharmos para ela, ao passo que STEVE está separado da aurora — é uma grande banda que atravessa o céu”.
NOTA
Esta investigação é também significativa porque inclui três estudantes da UCalgary, incluindo Josh Houghton, que foi inicialmente contratado como estagiário no projeto. “Na altura, ainda estava a aprender. Tinha acabado de começar o meu estágio e rapidamente me envolvi. É muito, muito fixe,” afirma.
Emma Spanswick diz que Houghton fez grande parte da análise da investigação, o que levou à sua participação no artigo da Nature enquanto estudante universitário. “Ele teve uma experiência de estágio espetacular”, considera.
A investigação foi possível graças ao Transition Region Explorer (TREx), um projeto da UCalgary financiado conjuntamente pela Fundação Canadiana para a Inovação, o Governo de Alberta e a Agência Espacial Canadiana.
Os instrumentos RGB e Spectograph do TREx são operados e mantidos pelo Space Environment Canada com o apoio da Agência Espacial Canadiana através da sua iniciativa Geospace Observatory (GO) Canada.