As papoilas enchem os campos portugueses entre abril e junho. Saiba onde encontrá-las, como nascem e as histórias que florescem com elas
Com a chegada da primavera, os campos portugueses ganham vida com o vermelho vibrante das papoilas — flores espontâneas que marcam a paisagem rural de norte a sul. Estas delicadas plantas, pertencentes à espécie Papaver rhoeas — descrita pelo botânico Carl Linnaeus, surgem em grande número em zonas agrícolas, terrenos baldios, montados, olivais e margens de caminhos. Também são conhecidas como papoila-brava e papoila-vermelha. “É uma planta herbácea de caule ereto por vezes ascendente e quase decumbente com pêlos visíveis, embora não muito densos”, explica site do museu da ciência da Universidade de Coimbra.
A descrição continua com a mesma fonte, explicando que as suas flores são escarlates grandes e solitárias e que crescem sobre um pedúnculo longo; a corola é formada por quatro pétalas vistosas e sobrepostas, muito finas e amarrotadas, de aspeto sedoso e normalmente de cor de sangue, sendo que podem também ser brancas ou rosa. Já o fruto é uma cápsula, verde-clara.
É originária do Médio Oriente e segundo o site Sementes de Portugal chegou ao nosso país trazida pelos Romanos juntamente com o trigo, sendo especialmente comum em áreas de clima mediterrânico. O seu ciclo é anual, e dependente de um inverno húmido e uma primavera soalheira — combinação que favorece o seu aparecimento em massa. Este ano os campos estão floridos.
As regiões do Alentejo, Ribatejo, Beira Baixa e partes do Centro e Norte interior destacam-se como os palcos principais desta explosão de cor. Campos de trigo, vinhas antigas, olivais e zonas não cultivadas são os locais ideais para quem quer apreciar esta flor silvestre.
Apesar de crescerem naturalmente em muitos terrenos, é possível semear papoilas em casa ou no jardim, desde que se criem as condições certas:
- Época de sementeira: outono ou início da primavera.
- Solo: bem drenado, ligeiramente arenoso e pouco fértil.
- Semeadura: superficial, pois as sementes precisam de luz para germinar.
- Rega: quase não necessita de rega.
- Exposição solar: sol pleno ou meia sombra.
As sementes de papoila são minúsculas, e um único fruto pode conter milhares delas, o que facilita a sua propagação ao vento.
A papoila está envolta em mitos, lendas e simbolismo desde a Antiguidade. Na mitologia grega, era associada a Hipnos, o deus do sono, e a Deméter, a deusa da agricultura, por florescer nos campos de cereais. No Egito Antigo, surgia em representações religiosas ligadas ao descanso eterno.
Em Portugal, a flor é por vezes chamada de “flor do sangue dos inocentes”, por nascer em zonas onde outrora se travaram batalhas. É ainda vista como símbolo da resistência, por surgir mesmo em terrenos negligenciados.
Apesar de não ter valor comercial expressivo, o seu impacto visual e simbólico é profundo, tornando-a uma das flores mais queridas da paisagem nacional. Também é usada na culinária, as suas sementes são utilizadas em pão, saladas e doces. E também é usada como medicamento. Segundo o museu de Ciência de Coimbra, as primeiras referências desta planta como medicamento datam de 3400 a.C, no Egito – era a planta da alegria pela capacidade de reduzir a dor e acalmar.
A Papaver rhoeas (papoila-brava ou papoila-vermelha): é a espécie mais comum em Portugal. Embora não contenha opiáceos, tem propriedades ligeiramente sedativas e por vezes é utilizada como chá calmante com as pétalas secas e para aliviar a tosse ou mesmo a insónia. Depois há ainda a Papaver somniferum (papoila-do-ópio): rica em alcaloides opiáceos (como morfina e codeína), que é usada na medicina para controlar dor intensa, tosse severa e diarreia crónica. É a base de vários medicamentos opiáceos, mas o seu cultivo é proibido em Portugal sem autorização da ANVISA.