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Perda de humidade do ar agrava secas em 40% nos últimos 40 anos

Uma investigação publicada na revista Nature analisou dados de mais de um século e descobriu que a atmosfera aquecida funciona como uma “esponja gigante” que retira água das culturas, florestas e rios mais rapidamente do que a sua reposição natural

Um fenómeno até agora pouco compreendido está por detrás do agravamento das secas em todo o mundo: a crescente “sede” da atmosfera por água.

Segundo a EcoDebate, um novo estudo publicado na prestigiada revista científica Nature, esta procura crescente por humidade tornou as secas 40% mais severas a nível global nos últimos 40 anos, mesmo em regiões onde a quantidade de precipitação se manteve inalterada.

A descoberta desafia a visão tradicional de que as secas são causadas principalmente pela falta de chuva. Os investigadores identificaram que o aquecimento do ar está a aumentar significativamente a capacidade da atmosfera para extrair humidade do solo, rios e plantas.

A esponja invisível no céu

O conceito-chave por detrás desta descoberta é a procura evaporativa atmosférica (DEA), que funciona como uma enorme esponja no céu. À medida que o ar aquece, consegue absorver mais vapor de água, criando uma procura crescente por humidade que muitas vezes supera a capacidade natural de reposição.

“À medida que a atmosfera aquece, o ar com uma humidade relativa constante retém mais vapor de água, o que pode levar a um aumento da precipitação. No entanto, espera-se também que a procura por evaporação atmosférica aumente”, explicam os investigadores no estudo.

A questão central que a investigação procurou responder foi: qual é fenómeno que está a crescer mais rapidamente – a oferta de água através da precipitação ou a procura atmosférica por humidade?

Metodologia revela tendência alarmante

Para chegar a estas conclusões, os cientistas utilizaram um conjunto de dados de alta resolução abrangendo mais de um século, e aplicaram métodos avançados para rastrear a evolução da DEA ao longo do tempo. A equipa comparou o abastecimento de água baseado na precipitação com a procura evaporativa atmosférica, utilizando diversas bases de dados científicas de referência.

Os resultados foram claros: a procura evaporativa atmosférica aumentou mais rapidamente do que as taxas de precipitação, indicando uma tendência preocupante para condições mais secas. Em regiões quentes, o aumento de apenas alguns graus na temperatura pode elevar drasticamente a capacidade da atmosfera para extrair humidade de culturas, pastagens e florestas.

Impactos além da agricultura

As implicações desta descoberta vão muito além dos efeitos diretos na agricultura. O estudo reforça evidências de que as secas se tornarão mais intensas num mundo em aquecimento, com consequências graves para a segurança alimentar e hídrica global. Estas mudanças podem, por sua vez, amplificar a instabilidade política e gerar conflitos.

Uma ligação mais imediata pode ser observada na relação entre o aumento da DEA e os incêndios florestais. Uma atmosfera mais “sedenta” seca a vegetação, contribuindo para incêndios de maior magnitude e intensidade.

Preparar o futuro

Perante estas conclusões, os investigadores sublinham a importância crítica de sistemas de alerta precoce, gestão eficaz dos riscos de seca e medidas preventivas. Uma previsão mais precisa das secas e do aumento da procura atmosférica poderá permitir intervenções mais eficazes.

Os agricultores, por exemplo, poderão adoptar tecnologias como a microirrigação ou tratamentos do solo que aumentem a retenção de água, para compensar o aumento da DEA. As cidades e os ecossistemas terão igualmente de desenvolver estratégias de adaptação para um mundo onde a atmosfera exige constantemente mais humidade.

O estudo abre caminho a novas linhas de investigação sobre como a evaporação e a procura atmosférica interagem não apenas com os padrões de precipitação, mas com todo o sistema de abastecimento de água. Compreender estas interacções será fundamental para desenvolver estratégias de adaptação eficazes num clima em transformação.

Estudo completo aqui, In EcoDebate

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