Um projeto inovador foi lançado no Reino Unido com o objetivo de proteger uma das borboletas mais emblemáticas do país: a borboleta-cauda-de-andorinha britânica (Papilio machaon britannicus). A espécie, que existe apenas em East Anglia, sobretudo nos Norfolk Broads, enfrenta ameaças sérias devido à perda de habitat, às alterações climáticas e à erosão genética provocada pela sua distribuição geográfica extremamente limitada.
A iniciativa resulta de uma colaboração entre a Anglia Ruskin University (ARU), a organização Nature’s SAFE — um biobanco britânico especializado em conservação — e o parque zoológico Jimmy’s Farm & Wildlife Park. O projeto irá testar se técnicas de criopreservação, que recorrem ao congelamento a -196 °C em azoto líquido, podem ser aplicadas para salvaguardar a sobrevivência desta borboleta.
Desde a década de 1970, 80% das borboletas no Reino Unido registaram quedas na sua abundância ou distribuição. A cauda-de-andorinha britânica, subespécie da cauda-de-andorinha-comum, encontra-se atualmente classificada como vulnerável na Lista Vermelha de Espécies do Reino Unido e perdeu 57% da sua população nos últimos 20 anos. Apesar de esforços recentes de conservação terem estabilizado essa tendência, os especialistas alertam que o futuro da espécie continua incerto.
Para a investigação, serão utilizadas inicialmente borboletas da subespécie europeia (Papilio machaon gorganus), geneticamente muito próxima, mas bem mais abundante. Os investigadores irão congelar ovos desta subespécie e tentar criar borboletas a partir deles, comparando o seu desenvolvimento e capacidade reprodutiva com grupos de controlo de ovos não congelados. Caso a técnica se revele eficaz, os ovos da cauda-de-andorinha britânica poderão ser preservados a longo prazo, apoiando programas de reprodução e possíveis reintroduções na natureza.
Alvin Helden, do Grupo de Investigação em Ecologia Aplicada da ARU, sublinha a importância do estudo:“Apesar de este ter sido um bom verão para as borboletas nativas, a tendência de longo prazo para a cauda-de-andorinha britânica é de declínio. Esta será, acreditamos, a primeira vez que a criopreservação é tentada com borboletas. Se conseguirmos demonstrar que as lagartas e os adultos provenientes de ovos congelados são saudáveis e férteis, poderemos abrir um caminho revolucionário para a conservação desta espécie e de outros insetos polinizadores.”
Jimmy Doherty, fundador do Jimmy’s Farm & Wildlife Park e professor visitante na ARU, reforça a relevância da parceria:“A conservação é central em tudo o que fazemos. Este projeto é um passo natural no nosso compromisso com a entomologia e a proteção das borboletas, e acreditamos que pode fazer uma diferença real para o futuro da cauda-de-andorinha britânica.”
Também Debbie Rolmanis, diretora de operações da Nature’s SAFE, salienta o impacto potencial da iniciativa:“Este projeto tem um valor enorme, não só para a cauda-de-andorinha britânica, mas para polinizadores e invertebrados em geral. O desenvolvimento da criopreservação nesta área pode ter benefícios diretos na conservação, na produção de alimentos e na preservação da biodiversidade.”
Com esta investigação, os cientistas esperam dar um passo decisivo na proteção de uma das joias naturais mais raras do Reino Unido, garantindo que as futuras gerações poderão continuar a ver esta borboleta única a voar sobre os juncais dos Norfolk Broads.


