Há 100 milhões de anos as lulas eram grandes, abundantes e nadavam rápido e ao que consta eram as rainhas dos oceanos
Se pensa que as lulas são apenas uma iguaria tenra que enche o prato de arroz malandrinho nas tasquinhas à beira-mar, desengane-se! Um grupo de cientistas japoneses, liderado por Shin Ikegami, descobriu que estas criaturas moles — mas cheias de atitude — já andavam a dominar os oceanos há cerca de 100 milhões de anos.
E tudo graças a uma técnica inovadora que, basicamente, transforma pedras em arquivos secretos de biologia marinha. Como? Com “digital fossil-mining”, uma espécie de raio-X da pré-história com esteroides. A descoberta foi publicada na revista Science.
Lulas com 100 Milhões de Anos?
Sim, leu bem. A Lula surgiu há cerca de 100 milhões de anos e rapidamente se tornou a “rainha” de três quartos do mundo, ou seja, dos oceanos. E não eram umas lulas quaisquer: eram grandes, abundantes e, ao que tudo indica, as verdadeiras chefes do mar. Muito antes dos peixes começarem a dar nas vistas ou das baleias aparecerem a fazer acrobacias.
As lulas são o grupo mais diversificado e globalmente distribuído de cefalópodes marinhos no oceano moderno, onde desempenham um papel vital nos ecossistemas oceânicos, tanto como predadores quanto como presas.
O seu sucesso evolutivo é amplamente considerado como estando relacionado à perda de uma concha externa rígida, que era uma característica fundamental dos seus ancestrais cefalópodes. No entanto, as suas origens evolutivas permanecem obscuras devido à raridade de fósseis de organismos de corpo mole.
O registo fóssil das lulas começa apenas há cerca de 45 milhões de anos, com a maioria dos espécimes consistindo apenas em estatólitos fossilizados – pequenas estruturas de carbonato de cálcio envolvidas no equilíbrio.
A falta de fósseis antigos levou à especulação de que as lulas se diversificaram após a extinção em massa no final do Cretáceo, há 66 milhões de anos. Embora as análises moleculares de espécies vivas tenham oferecido estimativas dos tempos de divergência das lulas, a ausência de fósseis mais antigos tornou essas estimativas altamente incertas.
A Técnica Futurista que lê rochas como se fossem livros antigos
Segundo o comunicado, a equipa usou tomografia de alta resolução que serve para “moer” rochas em finas camadas e depois reconstruí-las em 3D. Os investigadores aplicaram essa técnica a rochas carbonáticas da era cretácea do Japão, descobrindo 263 bicos de lulas fossilizados, incluindo 40 nunca antes vistos em 23 géneros e cinco famílias. As descobertas mostram que as lulas surgiram há cerca de 100 milhões de anos, perto da fronteira entre o início e o final do Cretáceo, e se diversificaram rapidamente a partir de então.
O estudo sugere que as lulas do Cretáceo Superior eram mais abundantes e frequentemente maiores do que os amonites e peixes ósseos coexistentes, um domínio ecológico que antecede a radiação dos peixes ósseos e mamíferos marinhos em mais de 30 milhões de anos, tornando-as entre os primeiros nadadores inteligentes e rápidos a moldar os ecossistemas oceânicos modernos.
Estas lulas já eram bastante evoluídas com traços que desapareceram nas lulas modernas. Outras, como os Myopsida, já tinham aquele aspeto simpático que conhecemos hoje.
Os cientistas agora sugerem que estas criaturas ajudaram a moldar o ecossistema marinho moderno — o que é uma forma elegante de dizer que as lulas foram as primeiras a impor respeito no fundo do mar, sendo as pioneiras entre os nadadores rápidos e inteligentes.
Conclusão: nunca Subestime uma lula
Portanto, da próxima vez que estiver a olhar para uma lula na travessa, lembre-se: aquele molusco já andava a dar cartas no Cretáceo, quando o T. rex ainda nem tinha inventado o rugido. E enquanto as outras espécies se foram abaixo com o famoso meteoro, as lulas continuaram por aí, firmes, flexíveis e sempre prontas para mais uma reviravolta evolutiva.