A atração de investidores internacionais é um dos principais desafios e oportunidades para as empresas que procuram crescer e expandir a sua presença no mercado global. No processo de identificação de oportunidades de investimento, os investidores procuram maximizar o retorno e reduzir o risco, garantindo que o capital é aplicado em negócios sustentáveis e resilientes a longo prazo.
Para tal, é essencial que as empresas forneçam informação clara, transparente e padronizada sobre os seus impactos ambientais, sociais e de governança (ESG). A regulamentação europeia, nomeadamente a CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive), desempenha um papel fundamental nesta transformação ao impor regras de reporte detalhadas e comparáveis, ajudando investidores a tomar decisões informadas.
O Processo de Avaliação de Risco pelos Investidores
Diferentes instrumentos de investimento têm níveis de risco distintos, e um investidor ou entidade bancária não empresta capital sem garantias. Estas podem ser colaterais financeiros, seguros de crédito ou avaliações detalhadas sobre a viabilidade da empresa.
Para determinar a viabilidade de um investimento, os investidores avaliam vários tipos de riscos associados a uma empresa:
🔹 Riscos de Imagem – A reputação corporativa tem um impacto significativo no valor de mercado. Empresas envolvidas em escândalos ambientais ou sociais enfrentam boicotes de consumidores, desvalorização das ações e perda de acesso a financiamento.
🔹 Riscos Operacionais – Custos crescentes de matérias-primas, energia e transportes podem comprometer a rentabilidade de uma empresa. A eficiência na gestão de recursos é crucial para garantir estabilidade financeira.
🔹 Riscos de Capital – Empresas com passivos elevados e baixa capacidade de financiamento enfrentam dificuldades em aceder a novos créditos. Investidores avaliam a sustentabilidade financeira e a capacidade de geração de caixa antes de tomarem decisões.
🔹 Riscos de Pessoal – Rotatividade elevada, más condições de trabalho ou falta de diversidade podem impactar a produtividade e o compromisso dos colaboradores, afetando diretamente a competitividade e o desempenho empresarial.
As Três Componentes-Chave da Regulamentação Europeia
A União Europeia criou um quadro regulatório robusto para garantir que os mercados financeiros e as empresas adotam práticas sustentáveis. Este quadro assenta em três pilares fundamentais:
- Taxonomia Europeia – Define critérios claros para identificar atividades económicas sustentáveis. O objetivo é direcionar os investimentos para projetos e empresas alinhadas com as metas climáticas e ambientais da UE.
- Diretivas de Reporte (SFDR e CSRD) – A SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation) direcionada para empresas financeiras, obriga os investidores a divulgar o impacto ESG dos seus investimentos e o Green Asset Ratio (GAR). Já a CSRD exige que as empresas não financeiras forneçam relatórios detalhados sobre a sua o quanto estão as suas actividades alinhadas com sustentabilidade, garantindo maior transparência.
- CSDDD (Corporate Sustainability Due Diligence Directive) – Obriga as grandes empresas a avaliar e mitigar os impactos ESG na sua cadeia de valor, assegurando que fornecedores e parceiros cumprem padrões ambientais e sociais elevados.
Transparência: A Nova Vantagem Competitiva
Com a identificação dos Impactos, Riscos e Oportunidades (IRO), a definição de uma estratégia de sustentabilidade e a recolha sistemática de dados, as empresas passam a ter maior transparência sobre as suas atividades. Este fator é essencial para inspirar confiança junto dos investidores e entidades bancárias, demonstrando compromisso com práticas empresariais responsáveis e sustentáveis.
A regulamentação europeia não impõe apenas obrigações – ela fornece ferramentas e critérios para os investidores tomarem decisões informadas. Empresas que adotam a transparência como princípio estratégico destacam-se no mercado e tornam-se mais atrativas para o capital internacional.
Um exemplo prático de custos de capital
Uma empresa que pretende contrair um empréstimo de 2 milhões de euros para construir uma nova fábrica na Europa enfrenta custos significativos de capital. Considerando uma taxa de juro média de 4,5% para empréstimos empresariais a 15 anos, o custo total dos juros ao longo do período seria de aproximadamente 1.350.000 euros, resultando num custo total do empréstimo de 3.350.000 euros.
Como alternativa, a empresa pode considerar a contratação de um empréstimo verde, que geralmente oferece condições financeiras mais vantajosas para projetos sustentáveis. Optando por um empréstimo verde com uma taxa de juro de 2,5% para o mesmo período de 15 anos, o custo total dos juros seria de aproximadamente 750.000 euros, resultando num custo total do empréstimo de 2.750.000 euros.
Ao poder ter acesso a um empréstimo verde, a empresa economizaria 600.000 euros em custos de capital. Além da redução financeira direta, a empresa beneficiaria de uma imagem corporativa mais sustentável, tornando-se mais atrativa para investidores e clientes que valorizam práticas ambientais responsáveis.
Menos Risco, Mais Investimento
Quando uma empresa identifica os seus riscos e implementa estratégias para os reduzir ou mitigar, os investidores percebem essa diminuição da incerteza. Isto traduz-se em custos de capital mais baixos e maior disponibilidade de investimento, uma vez que o risco percebido pelos financiadores é menor.
Pode parecer um processo burocrático e complexo, mas, grão a grão, a transparência na sustentabilidade transforma-se num fator de atração de investimento. O que antes era apenas uma obrigação legal passa a ser um elemento estratégico para o crescimento empresarial.
As finanças sustentáveis são um caminho sem retorno, e as empresas que adotarem a CSRD e outras diretivas europeias como uma oportunidade terão acesso a um mercado de capitais mais favorável, com menor custo de financiamento e maior atratividade para investidores internacionais.
A sustentabilidade já não é apenas uma exigência regulatória – é uma vantagem competitiva essencial para o futuro dos negócios.