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Teresa Cotrim

Toni Melajoki Roseiro: “Queremos que Portugal seja pioneiro na Europa na proteção dos oceanos”

Portugal junta-se à rede global de mais de 55 países com presença da Greenpeace. Toni Melajoki Roseiro, diretor executivo da Associação Greenpeace Portugal, diz que é apenas um regresso

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Toni Melajoki Roseiro, diretor executivo da Associação Greenpeace Portugal. Foto:Greenpeace

O icónico navio quebra-gelo, Artic Sunrine da Greenpeace, uma das três embarcações que a organização ambientalista usa nas suas ações pelo mundo, está em Lisboa e recebeu hoje uma comitiva de jornalistas para anunciar o lançamento de uma equipa permanente no nosso país. Esta organização conta com mais de 50 anos de história e está presente em mais de 50 países. Toni Melajoki Roseiro, diretor executivo da Associação Greenpeace Portugal diz que este é apenas um “regresso”, uma vez que a organização tem marcado presença pontual no país há mais de quinze anos, mediante eventos específicos, nomeadamente desde 2008, com ações como a campanha dos oceanos, denúncias sobre pesca excessiva, e campanhas contra a queima de combustíveis fósseis, uma das principais causas das alterações climáticas.

O diretor da Greenpeace relembra que de 2008 a 2010 ainda existiu um escritório virtual em Lisboa, mas era mais direcionado para o mercado do consumo. “A primeira ação da Greenpeace em Portugal aconteceu em Junho de 2008, foi a etiquetagem do peixe”, conta. Na altura, o jornal Público noticiou que “nove ativistas portugueses, dos 16 aos 42 anos, “vestiram-se” com os coletes da Greenpeace para, numa ação pacífica e de não confronto, dizer aos responsáveis do Lidl, Auchan, Mosqueteiros, Sonae e Jerónimo Martins que é preciso deixar de vender peixe ameaçado”.

O responsável diz que agora a atuação da Greenpeace portuguesa vai centrar-se em três pilares fundamentais: proteção da biodiversidade, transformação radical do modelo sócio-económico e emergência climática. “Estamos a dar os primeiros passos da organização em Portugal. Estamos a analisar a situação socioambiental, a resposta do governo, o trabalho de outras organizações parceiras e ver as principais preocupações ambientais da cidadania portuguesa, para definir as nossas prioridades a curto prazo”.

No âmbito da Emergência Climática, sendo Portugal o país da União Europeia com a maior percentagem de superfície ardida, durante este primeiro ano a organização irá focar-se num trabalho aprofundado de investigação para apresentar propostas concretas sobre políticas florestais e alternativas para todo o ciclo de gestão. Vão abordar a ameaça e a vulnerabilidade e exposição que os incêndios representam, cada vez mais agravados pelas alterações climáticas.

Quanto à proteção da biodiversidade, com um foco internacional, a organização trabalhará na proteção dos oceanos, tanto em águas nacionais como internacionais. “A nossa primeira exigência ao governo português será a ratificação do Tratado dos Oceanos das Nações Unidas. Quatro países europeus, incluindo Espanha, já o anunciaram, e Portugal – o país com a maior zona marítima da Europa – não pode ficar para trás. Além disso, a Greenpeace exigirá que Portugal apoie a declaração de áreas marinhas protegidas em alto mar, para alcançar a meta de 30% de proteção até 2030”, anunciam. Toni Melajoki Roseiro, tem, contudo, uma ambição “Queremos que Portugal seja pioneiro na Europa na proteção dos oceanos”.

Como refere a LUSA, o tratado, assinado por Portugal, mas ainda não ratificado, foi aprovado em março de 2023 e adotado na ONU em junho do mesmo ano, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, e destina-se a promover a conservação e utilização sustentável da biodiversidade marinha em áreas que não pertencem a uma jurisdição nacional. Trata-se uma área que representa dois terços da superfície dos oceanos.

O responsável da Greenpeace portuguesa refere também que Portugal foi o primeiro país europeu a anunciar a proibição da exploração mineira em mar profundo, nas suas águas territoriais, até 2050. “A Greenpeace irá também exigir que o governo português lidere as negociações da ISA (International Seabed Authority) para expandir essa proibição às águas internacionais”.

Jo Dufay, Presidente do Conselho da Greenpeace Internacional, destaca o facto de Portugal estar rodeado de “oceano”, sendo, por isso, um país que não poderia continuar de fora da Organização Ambiental, além disso, devido às alterações climáticas, é também um dos que está mais ameaçado por eventos de seca. “Era essencial termos uma presença permanente em Portugal, o único grande país europeu que ainda não fazia parte da família Greenpeace. Portugal tem sido pioneiro em várias questões ambientais e mantém laços históricos e culturais com países-chave na luta contra as alterações climáticas e a perda de biodiversidade, como o Brasil”.

Mas as batalhas a travar são muitas e não é fácil quebrar o gelo de quem não acredita nas alterações climáticas. Toni Melajoki Roseiro há muitos anos que anda a bordo da Greenpeace e conta que são bloqueados em vários portos, têm de ir atracar a outro local e que quando trabalham em investigação, no Sul Global América Latina, África e Sudoeste Asiático têm de ter cuidado. “Não nos anunciamos como Greenpeace”, confessa, e conta que os seus colegas no Brasil têm, inclusive, um carro blindado. Porém, foi no mar que já enfrentaram os confrontos violentos, nomeadamente com frotas japonesas de pescadores de baleias, por exemplo.

Um pouco de história…

Este grupo ambientalista nasceu em 15 de setembro de 1971, quando 12 pessoas, entre jornalistas e defensores da natureza, saíram de Vancouver, no Canadá, para as ilhas Aleutas, a Oeste do Alasca. Foram a bordo de um barco de pesca, Phyllis Cormack, com o intuito de protestar contra os testes nucleares dos EUA na região da ilha tectonicamente instável de Amchitka, no Alasca. Havia o receio de que desencadeasse tremores de terra ou até mesmo tsunamis. O mundo estava em guerra com o Vietname, e apesar de terem sido intercetados pela guarda costeira americana e terem sido enviados para trás a 20 de outubro, conseguiram chamar a atenção fazendo manchetes pelo mundo inteiro — o teste foi adiado, acabou por acontecer, mas seria o último. Assim nasceu o movimento “Don´t Make a Wave”. A Organização já está em 55 países e hoje chega a Portugal. Os temas alargaram-se, além da oposição nuclear, a defesa dos oceanos, da biodiversidade, luta contra a poluição por plástico, alterações climáticas, entre outros fazem parte da nova agenda. A opção de protesto sem violência, como escalar edifícios, por exemplo, continua a ser a sua forma de atuar.

Nota

A abertura da sede da Greenpeace em Portugal coincide com o 40.º aniversário da morte de Fernando Pereira, fotógrafo português e ativista da Greenpeace, que faleceu no naufrágio do Rainbow Warrior em 1985, após duas bombas colocadas pelo serviço secreto francês.

“A sua memória representa uma reivindicação do espaço democrático e do direito ao protesto, essencial para denunciar as injustiças que ameaçam a vida no nosso planeta”, concluiu Toni Melajoki Roseiro.

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