Relvados como campos de golfe, parques, jardins ou cemitérios têm um impacto significativo nas emissões de CO2 em ambientes urbanos
Num mundo onde as cidades se tornam cada vez mais protagonistas na luta contra as alterações climáticas, uma nova investigação destaca um elemento surpreendente mas omnipresente nos espaços urbanos: os relvados. Comum em parques, campos de golfe, jardins e cemitérios, este tipo de vegetação desempenha um papel importante, mas pouco compreendido, no equilíbrio das emissões de dióxido de carbono (CO2).
Um estudo conduzido em Indianápolis, nos Estados Unidos, utilizou medições diretas de fluxos de CO2 em dois tipos de relvado urbano – um campo de golfe com manutenção intensiva e um cemitério com gestão mais reduzida – para perceber melhor a sua contribuição para o chamado “fluxo biogénico” de carbono. Este termo refere-se às trocas de gases com efeito de estufa que resultam de processos naturais, como a fotossíntese e a respiração das plantas, em contraste com os fluxos das emissões urbanas produzidas pelo homem, como os provenientes da queima de combustíveis fósseis ao conduzirem automóveis, abastecer fábricas, aquecer as residências, entre outras atividades diárias. As plantas removem o dióxido de carbono da atmosfera durante a fotossíntese, mas também o produzem ao respirar e ao decompor. Analisar o impacto da vegetação é fundamental para produzir estimativas reais e precisas das emissões.
Os cientistas testaram a capacidade de um modelo ecológico simples, o VPRM (Vegetation Photosynthesis and Respiration Model), de simular os padrões diários e sazonais das emissões de CO2 nestes relvados. Contudo, descobriram que os tipos de vegetação (“PFTs” – Plant Functional Types) usados até agora neste modelo, baseados em dados de áreas rurais, não conseguiam replicar com precisão os dados recolhidos nos espaços urbanos.
Para resolver este problema, os investigadores desenvolveram um novo PFT específico para relvados urbanos. Os resultados mostram que diferentes tipos de gestão – como a frequência de rega e corte da relva – afetam fortemente os fluxos de CO2. Além disso, o comportamento da vegetação varia ao longo do ano, exigindo parâmetros que também se ajustem sazonalmente.
Mais importante ainda, ao aplicar este novo modelo à escala da cidade de Indianápolis, os cientistas verificaram que os relvados contribuem de forma significativa para o fluxo total de CO2 da cidade, sobretudo nas estações mais quentes. Segundo um artigo da Phys Org, nos meses de inverno, quando as temperaturas do ar caem abaixo de zero, os modelos previram que não havia atividade fotossintética. Mas as observações da equipa mostraram que ainda há fotossíntese nos relvados, removendo algum dióxido carbono da atmosfera — mesmo em temperaturas abaixo de zero. Ignorar este fator pode levar a erros na contabilização das emissões urbanas e, por consequência, afetar negativamente os esforços para monitorizar e reduzir os gases com efeito de estufa.
Este trabalho surge no âmbito do projeto INFLUX (Indianapolis Flux Experiment), uma das iniciativas mais avançadas no mundo para monitorizar as emissões de gases com efeito de estufa em ambiente urbano. Através da instalação de torres de medição em diferentes pontos da cidade, os investigadores conseguem medir diretamente os fluxos de CO2 trocados entre o solo, a vegetação e a atmosfera. No caso específico dos relvados, o estudo revelou que as zonas com maior manutenção (como os campos de golfe) apresentam fluxos muito diferentes daqueles que ocorrem em espaços menos geridos, como os cemitérios.