Num cenário onde a natureza parece ter sido relegada a um pano de fundo de betão e luzes de cidade, um improvável romance floresce. No coração do Central Park, em Nova Iorque, o amor acontece entre dois coiotes — carinhosamente baptizados de Romeu e Julieta por dois fotógrafos de vida selvagem, David Lei e Jackie, que já os seguem há seis anos e que vão contando a sua história nesta página de Instagram.
A história deste casal selvagem é uma ode à resistência da vida animal nas grandes metrópoles e à surpreendente capacidade de adaptação. Uma reportagem elaborada pela revista Smithsonian Magazine conta em pormenor esta aventura.
David Lei e Jackie — aliás quem os batizou com os nomes das personagens da famosa história de amor de Shakespeare, seguem discretamente o quotidiano destes animais, que desafiam todas as convenções do que se espera da fauna urbana. “Romeu foi avistado pela primeira vez em 2019, solitário e esquivo”, explica David Lei, na sua página de Instagram, dizendo que deambulava pelo parque solteiro.
Durante anos, a sua presença foi quase fantasmagórica. Mas tudo mudou em 2023, “quando surgiu acompanhado de uma parceira: Julieta”, explica David Lei no mesmo texto do Instagram. Desde então, os dois têm sido observados juntos — a atravessar lagos gelados, a caçar aves aquáticas, roedores, guaxinins, a explorar os trilhos e até a cruzar as avenidas movimentadas da cidade que nunca dorme.
Foto: Instagram de David Lei, Julieta. Pode ver o orginal neste link.
Segundo o fotógrafo, ele é mais pequeno, ela é maior e com uma pelagem mais escura. No entanto, ele é o rei do parque e, por isso, corre no caminho mais pavimentado. Já ela mais cautelosa escolhe atravessar pelo prado. “Os coiotes são monogâmicos e acasalam para toda a vida. O vínculo que Romeu e Julieta compartilham é encantador”, diz no seu instagram, continuando a relatar que eles dormem o mais perto possível um do outro durante o dia e quase sempre viajam juntos ao anoitecer. “Se ele se afasta muito de Julieta, espera por ela e pode soltar um pequeno gemido”, conta.
A presença de coiotes em Manhattan era, até há pouco tempo, praticamente impensável e outros casos não tiveram um final muito feliz. Porém, acreditamos em histórias de sucesso. A Smithsonian Magazine conta na sua reportagem que no último Inverno, Romeu e Julieta foram vistos em pleno ritual de acasalamento, alimentando a esperança de que a ilha de Manhattan pudesse, pela primeira vez, acolher crias de coiote — um marco inédito na relação entre cidade e natureza. No entanto, os sinais ainda são inconclusivos.
Foto: Instagram de David Lei, Romeu. Pode ver o original neste link.
As dificuldades são muitas. A mesma fonte explica que com mais de 42 milhões de visitantes anuais, o Central Park é uma paisagem intensamente frequentada por humanos e cães — frequentemente soltos, apesar das regras que o proíbem. Encontrar um recanto tranquilo para criar uma família é um desafio hercúleo.
David Lei diz no seu texto do Instagram que após observá-los durante centenas de horas nunca os viram iniciar uma interação negativa com pessoas e com os seus animais de estimação. “No entanto, são regularmente perseguidos por cães sem trela, mesmo os mais pequenos do que eles — fazem o seu melhor para evitar conflitos e acalmar os ânimos”, asseguram e termina dizendo que tem um grande respeito pelos dois e apela a que mais pessoas sintam o mesmo.
O simples fato de Romeu e Julieta ali estarem, resistindo, é já um triunfo. Como personagens saídas de uma fábula moderna, Romeu e Julieta não vivem em Verona, mas na ilha mais improvável para um casal de coiotes. E enquanto a história dos seus homónimos terminou em tragédia, esta promete, com sorte, capítulos de sobrevivência, amor e renascimento.
