Além do debate acalorado num jantar, estabelecer quais criaturas têm consciência é importante em termos de bem-estar animal e políticas de conservação. Um estudioso de filosofia da Universidade Estadual de Michigan trouxe clareza a um debate filosófico confuso.
Na revista Biology & Philosophy deste mês, o doutorando Jonah Branding contribui com uma árvore de decisão que pode ser aplicada a questões como: os peixes sentem dor quando estão no anzol? Uma formiga sente alarme ao proteger a sua colónia? Lesmas-banana sentem alguma coisa quando comem folhas mortas no chão da floresta? Ou esses organismos mais simples são mais como máquinas de estímulo-resposta, que não têm nenhuma experiência mental?
“Tem havido muito trabalho sobre a questão da consciência animal nos últimos anos, e as alegações sobre consciência estão a começar a ser levadas a sério por um número cada vez maior de organismos”, disse Branding. “Na década de 1990, houve um debate sério sobre se os chimpanzés são conscientes. Hoje, há um debate sério sobre se as plantas são conscientes.”
Reconhecer que criaturas têm sentimentos, pensamentos e/ou uma perspetiva em primeira pessoa é confuso. No artigo” Uma abordagem de marcador pode excluir ?”, a definição de marca estabelece uma ordem para diferentes abordagens a questões éticas, científicas e filosóficas.
“A ciência da consciência é notória pelas suas reviravoltas”, disse Kristin Andrews, professora de filosofia na City University de Nova York e titular da Cátedra de Pesquisa York em Mentes Animais. “No seu artigo, Branding oferece um roteiro para nos ajudar a responder a algumas das perguntas mais difíceis sobre quais seres são conscientes.”
Andrews, que não está envolvido no estudo, foi um dos signatários originais da Declaração de Nova York sobre Consciência Animal de 2024.
A marcação funciona com marcadores – características observáveis de organismos que se acredita estarem correlacionadas com a consciência. Eles podem incluir regiões cerebrais específicas, padrões de comportamento complexo ou capacidades cognitivas sofisticadas. Se um animal possui muitos dos tipos certos de marcadores, provavelmente está consciente.
Mas e se um animal apresentar poucos ou nenhum marcador? A marcação divide as crenças sobre isso em dois grupos. De um lado, está o que ele chama simetria, que são aqueles que precisam de evidências – um número correto de marcadores. Se a criatura não apresentar esse número, não é um ser consciente.
Aqueles que acreditam que marcadores são evidências de consciência, mas dizem que a ausência de marcadores não prova contra a consciência, estão no campo da assimetria.
Branding, membro do Programa de Ecologia, Evolução e Comportamento da MSU, aponta isso como o ponto crucial da discordância e tenta desvendá-la perguntando o que há de tão importante naquele marcador ausente. Ele cria uma árvore de decisão para restringir as perguntas.
Ele convida a considerar o caranguejo-eremita. Os caranguejos falham em muitos critérios – carecem de cérebros consideráveis e geralmente são péssimos em demonstrar essas capacidades cognitivas sofisticadas. Mas esses caranguejos selecionam as suas próprias conchas e, quando confrontados com um labirinto, são conhecidos por trocar de concha para se orientar melhor.
“Eu argumento que, dependendo de qual dessas abordagens você começar, e o que você pensa sobre algumas outras questões relacionadas no campo, podemos descobrir onde você deve se posicionar na questão da exclusão”, disse Branding, acrescentando que as perguntas ajudam a analisar como os seres no mundo natural devem ser valorizados e tratados.
“Essas são questões de como interagimos com o mundo”, disse ele. “Há implicações éticas importantes sobre com quem devemos nos importar moralmente.”
Estudo aqui (https://link.springer.com/article/10.1007/s10539-025-09989-x)
