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Tartarugas de-pente migram 1000 km para nidificar e se alimentar. Estão em risco de extinção

As tartarugas-de-pente, criticamente ameaçadas de extinção, migram até 1.000 km dos locais de nidificação para as áreas de alimentação, navegando a favor e contra as correntes oceânicas para se reunirem em pontos de alimentação populares

A tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) é uma espécie em risco de extinção há mais de 40 anos e permanece criticamente ameaçada. Embora a proteção das praias de nidificação seja um aspeto essencial da conservação, um fator igualmente importante para a recuperação da população é a identificação e proteção de habitats de inter-nidificação, migração e alimentação. No contexto de conservação, é crucial entender os movimentos desta espécie e a utilização do habitat, o que pode ser alcançado por meio de métodos como a telemetria por satélite.

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As pegadas de tartarugas em rosa foram marcadas na Pumpkin Hill Beach, Utila, Honduras (PHB); as pegadas laranja eram de tartarugas marcadas em Tortuguero, Costa Rica (TNP); as pegadas vermelhas eram de tartarugas marcadas no Refúgio Nacional de Vida Selvagem Gandoca-Manzanillo, Costa Rica (GMNWR); e a pegada marrom era de uma tartaruga marcada na Chiriqui Beach, Panamá (CBP). As datas de implantação podem ser encontradas na Tabela 1. Este mapa foi feito com batimetria da GEBCO, e o mapa foi feito através de ArcGIS Pro.

O estudo de acesso aberto Inter-nesting area use, migratory routes, and foraging grounds for hawksbill turtles (Eretmochelys imbricata) in the Western Caribbean publicado na Plos One monitorizou os movimentos de 15 tartarugas-de-pente nas Caraíbas Ocidentais, com a instalação de transmissores em tartarugas de nidificação provenientes das Honduras, Costa Rica e Panamá.

Os resultados mostraram que as áreas de inter-nidificação (onde fazem os ninhos) variaram consideravelmente, com distâncias entre 4 km² a 2.643 km², com uma distribuição central de 50% de utilização dentro desses limites. O tempo de seguimento variou de 15 a 70 dias. A grande utilização de áreas de inter-nidificação pode ser atribuída à presença de habitats adjacentes a plataformas continentais estreitas, com fortes correntes oceânicas, que as incentivam a procurar ativamente habitats adequados. Após a nidificação, realizaram migrações para zonas de alimentação, que cobriram distâncias de 73 a 1.059 km, com durações entre 5 e 45 dias.

Durante as migrações, as tartarugas alteraram regularmente a sua direção em relação às correntes oceânicas, utilizando o movimento com a corrente para equilibrar o movimento contra a corrente. Um dado interessante foi que tartarugas de diferentes praias de nidificação reuniram-se no mesmo habitat de alimentação, apesar de nidificarem em anos diferentes.

As tartarugas forragearam — ou seja, procuraram alimento, ao longo das plataformas costeiras e continentais da Nicarágua, Honduras, Belize e México, com tartarugas de diferentes locais de nidificação utilizando a área de hotspot da elevação da Nicarágua. A área de forrageamento foi geralmente menor (entre 6 e 705 km²) do que a utilização das áreas de inter-nidificação, sugerindo que as áreas de alimentação forneceram o alimento e áreas de descanso necessárias. Esses dados são essenciais para entender a localização dos habitats de inter-nidificação e alimentação, e como esses habitats são utilizados durante as migrações pós-nidificação. Estes dados também fornecem informações vitais para mitigar potenciais ameaças na água ou mesmo no ar como por exemplo falcões.

A tartaruga-de-pente historicamente habitou amplas áreas de nidificação em águas tropicais. As Ilhas da Baía (Honduras), Tortuguero (Costa Rica) e Bocas del Toro (Panamá) eram regiões produtivas de nidificação. No entanto, as populações diminuíram drasticamente porque tem sido explorada por humanos durante séculos pela sua carne e ovos. Porém, segundo o estudo a sua captura direta tenha sido essencialmente devido à sua carapaça colorida usada para para comércio de cascos, aliás uma das principais causas do seu declínio severo em todo o mundo. Devido a reduções substanciais a tartaruga de pente fino está atualmente listas como criticamente ameaçada na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Por exemplo, na Costa Rica, as populações da espécie diminuíram mais de 77% entre a década de 1950 e os anos 2000, e no Panamá, as populações caíram em cerca de 98% na década de 1990. Este declínio foi parcialmente enfrentado com proteções terrestres e costeiras, como as Áreas Marinhas Protegidas (AMP), sendo uma delas o Parque Nacional Tortuguero, criado em 1975 para proteger as tartarugas e seus habitats de nidificação. No entanto, muitas dessas proteções ainda não levam em conta as necessidades ecológicas mais amplas da espécie, especialmente os habitats de alimentação e as rotas migratórias.

Embora a proteção das praias de nidificação seja uma das principais estratégias de conservação, não é suficiente para restaurar as populações de Eretmochelys imbricata. A captura acidental, a caça intencional e a perda de habitat devido à degradação costeira continuam sendo ameaças significativas. Além disso, a proteção das rotas migratórias e das áreas de alimentação é mais difícil de implementar, uma vez que muitas dessas áreas estão localizadas em águas internacionais e não pertencem a um único país. Os habitats de alimentação conhecidos para essa espécie estão situados ao longo das plataformas continentais da Nicarágua, Honduras, Belize e México, onde ocorrem presas como esponjas, tunicados, corais e algas, que são a base alimentar das tartarugas.

O estudo utilizou telemetria de satélite para alcançar quatro objetivos principais: (1) medir a distribuição e o comportamento de busca nas áreas adjacentes às praias de nidificação, chamadas áreas de inter-nidificação; (2) definir os corredores migratórios que conectam as praias de nidificação às áreas de alimentação; (3) identificar os habitats de alimentação e quantificar o uso do habitat de forrageamento; e (4) calcular a similaridade entre os movimentos das tartarugas e as direções das correntes oceânicas. Essas informações são fundamentais para melhorar as estratégias de conservação, pois fornecem uma visão abrangente sobre a utilização do habitat e os padrões de migração das tartarugas-de-pente.

Em resumo, a telemetria por satélite tem se mostrado uma ferramenta essencial para a compreensão dos movimentos e comportamentos das tartarugas marinhas, especialmente das tartarugas-de-pente, cuja ecologia espacial ainda é pouco conhecida. O estudo fornece dados importantes sobre os habitats de inter-nidificação e forrageamento, além de identificar os corredores migratórios essenciais para a sobrevivência e recuperação dessa espécie ameaçada. A recolha de dados sobre esses aspetos é vital para a implementação de medidas de proteção mais eficazes, especialmente em áreas internacionais e no que diz respeito à conservação das rotas migratórias e habitats de alimentação.

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