#PorUmMundoMelhor

Sustentix

Trutas conseguem passar nas barragens construídas pelos castores

Os castores são os arquitetos da natureza. Constroem barragens que já pouparam milhares de euros na Europa. Até agora eram olhadas como intransponíveis, mas parece que há “quem” consiga passar estas verdadeiras muralhas da natureza.

Um estudo inovador, conduzido pela Universidade de Southampton (Reino Unido), revelou que a truta castanha consegue atravessar com êxito as barragens dos castores, obstáculos que se pensava constituírem uma barreira significativa à sua deslocação.

No entanto, os investigadores afirmam que a situação pode ser complexa, uma vez que os baixos caudais de água em alguns rios retêm os peixes abaixo das barragens, impedindo-os de aceder às zonas de desova. Os investigadores sugerem que períodos de seca prolongados, devido às alterações climáticas, podem aumentar este problema em certas zonas da Grã-Bretanha no futuro.

a beaver dam at one of the research sites in northern scotland © beaver trust

Foto: Beaver Trust

A investigação monitorizou os movimentos das trutas em dois cursos de água na Escócia – um modificado por uma série de quatro barragens de castores e o outro inalterado.

Os cientistas observaram as trutas enquanto navegavam pelas barreiras durante os períodos críticos de desova (outubro a dezembro). Os peixes foram seguidos utilizando tecnologia de telemetria, em que as trutas são marcadas com microchips que são lidos por antenas que atravessam as estruturas das barragens.

Os investigadores descobriram que os caudais elevados do rio, desencadeados pela precipitação, aumentavam significativamente a probabilidade de sucesso da passagem a montante. Além disso, os peixes maiores tiveram maior sucesso na passagem das barragens. Por outro lado, durante os períodos de baixo caudal, as barragens de castores constituíam um obstáculo mais significativo, atrasando ou por vezes impedindo o movimento das trutas para montante.

dr robert needham conducting an electrofishing survey as part of a separate project © beaver trust

Foto:Robert Needham, Beaver Trust

Robert Needham, Diretor de Restauração da Beaver Trust e antigo investigador da Universidade de Southampton, afirmou: “Os nossos resultados sublinham a capacidade de adaptação da truta-comum em condições favoráveis, passando regularmente as barragens de castores e, em certos casos, repetindo várias vezes a passagem. No entanto, como as alterações climáticas continuam a trazer tempo mais quente e seco, o risco de barreiras migratórias pode tornar-se uma preocupação em certos rios”.

Os castores foram outrora comuns em toda a Grã-Bretanha até serem caçados até à extinção por volta do século XVI. A sua reintrodução nos últimos anos tem sido anunciada como uma história de sucesso em matéria de conservação, com cerca de 1,2 milhões de animais a viverem atualmente em estado selvagem em toda a Europa. As populações na Grã-Bretanha são muito mais pequenas, sendo a maior na Escócia, com populações isoladas no sul de Inglaterra – embora o DEFRA tenha acabado de autorizar a libertação licenciada de castores na natureza em Inglaterra.

A engenharia natural dos habitats dos castores cria benefícios para a biodiversidade, mas também suscitou preocupações quanto aos potenciais impactos na pesca local, como o bloqueio dos rios e inundações localizadas. Esta nova investigação sublinha a importância de estratégias de gestão proativas para atenuar os potenciais desafios futuros para a migração dos peixes, especialmente num clima em mudança.

“Os nossos resultados indicam que a resposta dos peixes à modificação dos rios através da construção de barragens pelo castor pode ser diferenciada”, afirma Paul Kemp, responsável pelo projeto na Universidade de Southampton. “Em geral, e se os rios puderem responder naturalmente, os benefícios da atividade dos castores podem ser substanciais do ponto de vista ecológico. Contudo, nalgumas circunstâncias, as barragens de castores podem constituir barreiras ao movimento dos peixes, em especial com caudais baixos.

“É agora necessária mais investigação para compreender de que forma as barragens de castores podem impedir os movimentos dos peixes em rios de planície mais modificados, como no sul de Inglaterra.”

Dylan Roberts, Diretor do GWCT Fisheries, comenta: “Os castores estão agora de volta a Inglaterra e à Escócia, mas a paisagem é muito diferente da que existia há 500 anos. As populações de muitos peixes migratórios, que precisam de passar livremente a montante e a jusante para aceder às zonas de desova e ao mar, estão atualmente em crise e classificadas como ameaçadas de extinção. Estes estudos são cruciais para compreender melhor as interações entre os castores e os peixes migratórios, como a truta castanha e o salmão”.

O projeto foi realizado em colaboração com a Game and Wildlife Conservation Trust (GWCT), a Trout and Salmon Association e a NatureScot.

Os resultados foram publicados na revista PLOS One

Em destaque

  • All Posts
  • Agenda
  • Agricultura
  • Ambiente
  • Análise
  • Biodiversidade
  • Ciência
  • Curiosidades
  • Dinheiro
  • Empresas
  • Entrevista
  • ESG
  • Estudo
  • Exclusivo
  • Finanças
  • Finanças Verdes
  • Inovação
  • Inovação Social
  • Internacional
  • Newsletter
  • Opinião
  • Pescas
  • Pessoas
  • Psicologia
  • Reportagem
  • Saúde
  • Sem categoria
  • Social
  • Start ups
  • Tecnologia
  • Tendências
Receba as notícias diretamente no seu email. Assine a nossa newsletter mensal.
Receba as notícias diretamente no seu email. Assine a nossa newsletter mensal.