Nos últimos 40 anos, a maioria dos lagos do mundo mudou de cor, de acordo com um novo estudo. A equipa de investigação analisou 32 milhões de observações de satélite de mais de 67 000 lagos. Pensa-se que a causa são as grandes alterações nos ecossistemas dos lagos.
Os lagos são componentes críticos do ecossistema da Terra. Fornecem habitats para espécies aquáticas e terrestres, apoiam a biodiversidade e ajudam a manter o equilíbrio ecológico. Os lagos são também cruciais para fornecer água potável, apoiar a agricultura e influenciar o clima através dos seus efeitos na temperatura, humidade e processos atmosféricos.
A cor dos lagos é um indicador importante do seu estado de saúde. As diferentes tonalidades revelam o estado ecológico dos lagos e os processos físicos e bioquímicos em curso.
Num estudo publicado na revista Water Resources Research, uma equipa de investigadores analisou 32 milhões de imagens de satélite de mais de 67 000 lagos a partir de 1984.
Após cruzarem dados climáticos e populacionais, os investigadores descobriram que apenas 14% dos lagos estudados mantiveram cores estáveis ao longo do tempo. O facto de tantos terem mudado de cor indica uma perturbação significativa do ecossistema causada por alterações na qualidade da água, nas concentrações de algas, no fluxo de matéria orgânica dissolvida e noutros factores.
“Os nossos resultados mostram a forte correlação entre as mudanças nas cores dos lagos, as alterações climáticas e o impacto humano. Descobrimos que 60% dos lagos tinham sofrido alterações significativas de cor”, afirma Zheng Duan, investigador de geografia física na Universidade de Lund.
Os lagos têm cores diferentes consoante a sua localização. Os lagos azuis localizam-se principalmente em zonas de latitudes setentrionais, enquanto os verdes são mais frequentes em regiões de latitude média densamente povoadas, como o sul da Europa. Os avermelhados e amarelados encontram-se sobretudo no hemisfério sul.
No estudo, os investigadores descobriram que a maioria se deslocou para comprimentos de onda mais curtos (para o azul) nos últimos 40 anos. Um lago com uma cor mais azulada indica geralmente águas mais límpidas e pode refletir um estado ecológico mais saudável, embora isso varie em função das suas caraterísticas naturais e envolvência.
No entanto, alterações significativas na cor do lago podem indicar perturbações ecológicas, como o aumento das cargas de nutrientes ou outros fatores que afetam as propriedades físicas e bioquímicas da água. As diferenças entre regiões foram notáveis.
“Os lagos das regiões de alta latitude, como a América do Norte e o norte da Europa, mostraram uma mudança de cor mais pronunciada em comparação com os do equador e do hemisfério sul. Não sabemos bem por que razão isto acontece. Esta variação regional sugere que as alterações climáticas e a atividade humana estão a afetar os ecossistemas de forma complexa e localizada”, afirma Duan.
Ao mapear as cores dos lagos a nível mundial, o novo estudo destaca a forma como as alterações climáticas e a atividade humana estão a afetar os ecossistemas lacustres, que, por sua vez, têm um grande impacto na produção de alimentos, no abastecimento de água e nas atividades recreativas. A compreensão destas alterações pode ajudar as comunidades e os decisores políticos a tomar decisões informadas sobre a gestão dos recursos hídricos, a conservação e a proteção do ambiente.
Além disso, o estudo mostra como a teledeteção por satélite pode ser uma ferramenta escalável e rentável para monitorizar as alterações ambientais ao longo do tempo, o que é crucial para o desenvolvimento sustentável num mundo em rápida mutação.
“A abordagem baseada na deteção remota oferece uma solução para a monitorização a longo prazo da qualidade da água e da estabilidade ecológica, permitindo uma intervenção precoce”, afirma Duan.


