Nova investigação mostra que, a longo prazo, há uma mortalidade de 30% e um abrandamento alarmante do crescimento das faias nativas no nordeste do Ohio. Muito próximo do epicentro da doença da folha da faia
A doença da folha da faia (BLD) apareceu há cerca de uma década no nordeste do Ohio. Agora um novo estudo realizado por investigadores do The Holden Arboretum revela que a faia americana (Fagus grandifolia) está a sofrer uma mortalidade significativa e um crescimento reduzido. Isto significa que há indícios de que pode trazer alterações duradouras às florestas do leste da América do Norte. A importância deste estudo prende-se com o facto de ser o primeiro a quantificar a extensão dos danos.
Publicado na revista científica Trees, Forests and People, quantificou os impactos a longo prazo da DLR em árvores individuais, utilizando um conjunto único de dados recolhidos anualmente desde antes de a doença ter sido detetada pela primeira vez na região.
Em comunicado a Holden Forests & Gardens revela que, das 263 faias americanas monitorizadas no local de investigação do condado de Cuyahoga, 30% morreram desde que a BLD foi observada pela primeira vez na área em 2014, com as perdas mais graves a ocorrerem nos últimos anos.
Brianna Shepherd, especialista em investigação da Holden Forests & Gardens, que liderou o estudo, aponta que “assistimos a um aumento exponencial da mortalidade apenas nos últimos três anos”. A investigadora acrescenta que “as mudas foram especialmente atingidas, com taxas de mortalidade que chegaram a 14% só em 2022.”
É necessário perceber que a doença, que está associada ao nemátodo não nativo Litylenchus crenatae subsp. mccannii, provoca o escurecimento e a distorção das folhas, o que pode reduzir a fotossíntese até 60%. Estes sintomas, aponta o estudo, observados pela primeira vez em Lake County, Ohio, em 2012, estendem-se agora por 15 estados dos EUA e até Ontário, Canadá.
Além do aumento da mortalidade, o estudo concluiu que as faias nas parcelas afetadas cresceram significativamente mais devagar após a chegada da BLD.
As conclusões baseiam-se em dados de longo prazo de parcelas de investigação da Squire Valleevue Farm da Case Western Reserve University em Hunting Valley, Ohio, a poucos quilómetros do epicentro do surto de BLD, que foram estabelecidas por acaso em 2009. Originalmente criadas para estudar os efeitos dos nutrientes e da acidificação do solo, as parcelas ofereceram uma rara oportunidade de observar a progressão da doença ao longo do tempo. Os sintomas de BLD foram facilmente observados nas árvores do local em 2017.
Katie Stuble, coautora e diretora de Investigação em Holden, por seu lado, explica que “o nosso conjunto de dados a longo prazo permitiu-nos acompanhar exatamente o que aconteceu, desde antes de a doença estar aqui até quase uma década de propagação”, acrescentando que “muitos Muitos estudos sobre doenças florestais não têm acesso a este tipo de dados de base, o que nos dá uma imagem muito mais clara do que esta doença está a fazer.”
No entanto a equipa de investigação refere que é necessária uma monitorização contínua, em especial à medida que a BLD continua a expandir a sua área de distribuição e se cruza com outros fatores de stress, como a doença da casca da faia e as alterações climáticas. Isto porque “em conjunto, estas pressões podem alterar a composição e a estrutura das florestas orientais”.
A conclusão de Shepherd é a de que “estamos a assistir ao declínio de uma espécie fundamental em tempo real”. Segundo a investigadora “é triste, mas à medida que aprendemos mais e mais sobre a doença através de estudos como este, aproximamo-nos de possíveis soluções.”
“Esta é uma crise lenta”, afirma David Burke, coautor e vice-presidente da Holden para a Ciência e Conservação. “A doença da folha da faia não mata as árvores tão rapidamente como algumas pragas, mas os impactos cumulativos – crescimento mais lento, perda de energia, aumento da mortalidade – acumulam-se. Especialmente numa floresta onde a faia é dominante, estes efeitos propagam-se”.
Os investigadores também descobriram que a mortalidade das árvores era mais elevada nas parcelas com populações de faias mais densas, o que sugere que a aglomeração ou a transmissão de doenças podem estar a agravar o stress nas árvores. Em contrapartida, avança o estudo, a mortalidade foi um pouco mais baixa nas parcelas tratadas com calcário (para diminuir a acidez) ou fosfato (para aumentar os nutrientes) – um tratamento experimental de um estudo separado – sugerindo possíveis ligações entre a química do solo e a mortalidade.
Este texto é uma parceria com o GreenOcean www.greenocean.pt


