Quando se trata de tomar uma decisão de olhos fechados nem sempre é fácil aceitar o desafio de saltar no escuro, mas há povos mais afoitos caso dos chineses e japoneses
A tomada de decisão é retratada como um processo racional: as pessoas calculam os riscos potenciais e maximizam os benefícios. No entanto, os nossos cérebros nem sempre garantem ações racionais, particularmente quando é necessário uma resposta imediata. Às vezes, os indivíduos escolhem erroneamente opções piores devido à forma como estas são percebidas num determinado contexto. Por exemplo, se um investidor tiver a oportunidade de comprar um portfólio de ações com 60% de probabilidade de gerar lucro, provavelmente aceitará. No entanto, se for informado de que há 40% de hipóteses de incorrer em perdas, provavelmente recusará a oferta. O contexto é o que determina a nossa avaliação das opções disponíveis.
Uma equipa internacional de investigadores do Instituto HSE de Neurociência Cognitiva , realizou um estudo que envolveu voluntários de onze países com condição socioeconómica e cultural bastante distintas. Participaram mais de 500 cidadãos da Rússia, França, Argentina, Índia, China, entre outros países onde lhes foi proposto realizaram uma tarefa de tomada de decisão que consistiu em duas fases. Na primeira, os participantes foram solicitados a escolher entre duas opções, cada uma ligada à obtenção de uma recompensa ou ao risco de perdê-la. Em cada rodada, as opções foram reiteradas, formando várias combinações para estabelecer contextos nos quais estas foram apresentadas como mais ou menos gratificantes. Assim, os participantes tiveram a oportunidade de maximizar as suas recompensas com base no aprendizagem das rodadas anteriores; no entanto, todos, sem exceção, independentemente da nacionalidade, tomaram decisões abaixo do pretendido e avaliaram incorretamente as opções em certos contextos.

Os investigadores tiveram como objetivo investigar se o contexto influencia consistentemente as nossas decisões ou se o grau de racionalidade humana varia dependendo de fatores socioeconómicos e culturais, como país de origem, status, religião, sistema político, entre outros. Para avaliar os resultados da primeira fase, os autores do estudo instruíram os participantes a realizar uma segunda tarefa envolvendo uma escolha entre duas opções apresentadas nos mesmos contextos, mas com variáveis conhecidas. Por exemplo, os voluntários foram informados que poderiam receber uma recompensa elevada, porém apenas com 50% de probabilidade disso suceder, ou então optar por uma recompensa garantida, mas menos choruda.
Ao administrar consistentemente estas duas situações, tornou-se possível identificar o limite perante o qual os indivíduos param de correr riscos e escolhem a opção segura. Esse limite é individual e depende da preferência de risco de cada um. Porém, os resultados mostraram que é também uma característica específica da cultura. Assim, os cidadãos russos exibiram preferências de risco médias, os chineses e japoneses demonstraram a maior propensão ao risco, enquanto os residentes da Índia e do Chile foram os mais avessos ao risco.
“Anteriormente, acreditava-se que o principal fator que influenciava as nossas decisões era a nossa disposição em correr riscos. No entanto, esta pesquisa, provou que nem sempre é assim. A nossa tomada de decisão depende principalmente de como recebemos informações: se vivenciamos a situação em primeira mão ou se somos apenas informados sobre ela”, explica a coautora do estudo Oksana Zinchenko , investigadora sénior do Institute for Cognitive Neuroscience, da HSE University . Com este estudo, a investigadora afirma que demonstraram que a consciência humana exibe uma certa limitação cognitiva, que é uma característica que está ligada às nossas crenças, atitudes ou nacionalidade”. Segundo os autores, as descobertas deste estudo podem encontrar aplicações práticas em economia, psicologia, marketing e outros campos das ciências humanas.