Um novo estudo revela o profundo impacto emocional e físico dos enjoos matinais extremos, com mais de metade das mulheres afetadas a consideraram interromper a gravidez e 9 em cada 10 a afirmar que pensaram não ter mais filhos.
Ao contrário dos enjoos matinais “normais” que muitas grávidas sentem no início da gestação, a hiperemese gravídica (HG) é uma condição muito mais grave, que pode obrigar a idas frequentes ao hospital, deixar as mulheres incapacitadas de trabalhar ou até de realizar tarefas básicas do dia a dia.
Segundo a investigação, publicada na revista científica PLOS ONE feita com 289 mulheres australianas, os números impressionam:
- 54% pensaram em interromper a gravidez devido ao sofrimento;
- 90% disseram ter considerado não voltar a engravidar;
- 62% afirmaram sentir-se frequentemente deprimidas ou ansiosas;
- Quase metade relatou grandes dificuldades em manter a vida social, o trabalho e os cuidados com a família.
Algumas mulheres (37%) chegaram mesmo a pedir a indução antecipada do parto, apenas para abreviar o tormento dos sintomas.
Quando os medicamentos não chegam
O estudo também avaliou os tratamentos utilizados. Embora existam vários medicamentos prescritos para aliviar enjoos fortes na gravidez, apenas metade das mulheres disse sentir verdadeira melhoria.
Entre os fármacos mais eficazes apontados estão a ondansetrona, a doxilamina e os corticosteroides. Ainda assim, os efeitos secundários — como obstipação, sonolência ou dificuldade de concentração — foram relatados por muitas.
Já a metoclopramida, também usada frequentemente, foi abandonada por quase um terço das mulheres devido a reações adversas.
Segundo o investigador principal do estudo, o farmacêutico e professor associado Luke Grzeskowiak, este cenário mostra que “as mulheres acabam muitas vezes a experimentar vários medicamentos sem resultados consistentes, e que os próprios tratamentos podem trazer novos problemas”.
Um problema de saúde que precisa de ser levado a sério
Para muitas grávidas, a hiperemese gravídica não é reconhecida como uma condição séria. Frequentemente, os sintomas são minimizados como “parte normal da gravidez”.
Mas, segundo Caitlin Kay-Smith, fundadora da associação de apoio Hyperemesis Australia e coautora do estudo, isso precisa de mudar:“Demasiadas vezes, as mulheres são deixadas a sofrer em silêncio. Precisamos de cuidados personalizados que reconheçam todo o impacto da hiperemese gravídica.”
O estudo conclui que é urgente investir em investigação, criar melhores orientações médicas e reforçar os serviços de apoio para estas mulheres.
Como resume o professor Grzeskowiak:“As mulheres querem, acima de tudo, ser ouvidas, acreditadas e tratadas com dignidade.”


