Pais de crianças com diferentes níveis de dificuldade de marcha relatam melhorias significativas na qualidade de vida dos seus filhos após seis meses a viverem com cães de assistência à mobilidade. A conclusão resulta do primeiro estudo qualitativo deste género, conduzido por investigadores do Trinity College Dublin e publicado na revista Physical Therapy Reviews.
O trabalho acompanhou 10 crianças entre os 6 e os 12 anos, com limitações neurológicas e/ou físicas na marcha, que receberam cães especialmente treinados pela associação nacional Dogs for Disabled.
Mais atividade física e confiança
Segundo os pais, as crianças passaram a andar durante mais tempo, com melhor qualidade de marcha e maior resistência. Todos notaram uma melhoria no equilíbrio e na estabilidade, e a maioria destacou ainda a capacidade acrescida de enfrentar diferentes superfícies, como a areia da praia.
Além disso, os cães ajudaram a motivar os jovens a serem mais ativos e a ganhar confiança e autoconfiança, com alguns pais a associarem a presença do animal à redução da ansiedade.
Impacto social e familiar
Além das melhorias físicas, os investigadores destacam ganhos ao nível da interação social. Os cães funcionaram como facilitadores no contacto com outras crianças e com o público em geral, servindo de ponto de partida para conversas.
No contexto familiar, os pais sublinharam que os cães trouxeram energia positiva e felicidade ao ambiente doméstico. As famílias passaram a fazer mais caminhadas em conjunto e, apesar do trabalho adicional associado aos cuidados com os animais, consideraram que os benefícios superam largamente os desafios.
Um “motivo de otimismo”
A primeira autora do estudo, Heather Kennedy, da Escola de Engenharia do Trinity, lembra que “as crianças com limitações físicas participam em níveis de atividade muito inferiores aos recomendados”, e defende que as terapias devem ser divertidas, envolver a família e estimular a participação.
Também Michelle Spirtos, diretora da disciplina de Terapia Ocupacional da mesma instituição e coautora sénior, considera que “os resultados oferecem um motivo de otimismo”, mas reforça a necessidade de estudos mais longos e com mais participantes.
Por sua vez, o professor Ciaran Simms, investigador principal do projeto, sublinha que, em trabalhos anteriores, as melhorias físicas foram mais expressivas em crianças com limitações menos graves. Ainda assim, salienta que este novo estudo mostra que, em termos de qualidade de vida percebida, os benefícios foram reportados em todos os casos.
Orgulho nacional
Para Jennifer Dowler, fundadora e CEO da Dogs for Disabled, esta investigação representa “um marco sem precedentes”, tornado possível graças à colaboração entre a Trinity College Dublin, o Central Remedial Clinic e os financiadores do projeto.
“É um privilégio profundo ver esta investigação pioneira avançar, com impacto real na vida das nossas crianças”, afirmou.