As palhinhas de beber, objeto aparentemente simples e descartável, tornaram-se um símbolo do debate sobre a poluição por plásticos e da procura de alternativas mais sustentáveis. Um estudo recente analisou 13 tipos de palhinhas disponíveis no mercado, com diferentes formulações, para avaliar não só as suas propriedades físicas e químicas, mas também a sua biodegradação em ambiente marinho. Os resultados revelam avanços importantes, mas também contradições entre o marketing e a realidade.
Quatro conclusões principais
Da análise resultaram quatro conclusões-chave:
- Polímeros inovadores com metano — Apenas uma das palhinhas, feita de polihidroxialcanoatos (PHAs) a partir de metano residual, apresentou um impacto climático negativo, ou seja, ajudou a retirar dióxido de carbono da atmosfera.
- Enchimentos biológicos sem efeito real — A adição de cargas de origem biológica a plásticos convencionais, como o polipropileno (PP), não trouxe benefícios ambientais relevantes quando comparada com a substituição integral por outros polímeros.
- Marketing pouco fiável — Muitas alegações de sustentabilidade e circularidade feitas pelas marcas não eram suportadas por dados científicos, podendo até agravar os impactos ambientais devido à má gestão dos resíduos.
- Compostáveis mal geridos podem ser piores — Se eliminadas em aterro em vez de em sistemas de compostagem, as palhinhas compostáveis podem multiplicar por seis o seu potencial de aquecimento global, anulando as vantagens ambientais dos materiais biodegradáveis.
A confusão das certificações
Uma das maiores dificuldades para consumidores e decisores políticos é a proliferação de rótulos e certificações ambientais. Organismos como a TÜV Austria e a Biodegradable Products Institute (BPI) avaliam a compostabilidade em ambiente doméstico ou industrial, mas a linguagem nos rótulos nem sempre é clara.
Enquanto alguns certificados garantem a compostagem em condições controladas, isso não significa necessariamente que o produto se degrade no oceano ou em aterros — destinos comuns para palhinhas eliminadas de forma incorreta.
Biodegradação no mar: quem resiste e quem desaparece?
Os investigadores testaram as palhinhas em condições reais de água marinha durante 30 semanas. Os resultados mostraram que:
- Palhinhas de PHA perderam entre 30% e 50% da massa.
- Palhinhas de papel degradaram-se em cerca de 70%.
- Alguns biopolímeros alternativos registaram apenas 10% de perda.
- Polipropileno e outros plásticos convencionais não apresentaram qualquer degradação.
Ou seja, muitos produtos rotulados como “biodegradáveis” ou “compostáveis” não cumprem essa promessa no mar — o local onde tantas palhinhas acabam por parar.
O dilema da escolha de materiais
O estudo sublinha que não existe uma resposta única para o problema. Os fabricantes enfrentam pressões de consumidores, reguladores e investidores para criar produtos mais “verdes”, mas há dilemas complexos:
- É melhor usar um polímero de origem biológica mas persistente, como o PP?
- Ou optar por um polímero fóssil mas compostável, como o PBAT?
Uma vez escolhido o material, mudar implica custos e resistências significativas, tornando as decisões ainda mais críticas
As palhinhas são um microcosmo do desafio global do plástico. Representam um objeto simples, mas que ajuda a perceber os compromissos e dilemas das estratégias de design aplicadas pela indústria: circularidade, persistência ambiental, impacto climático e viabilidade económica.
Enquanto o debate continua, uma certeza emerge: sem infraestruturas adequadas de gestão de resíduos, mesmo os melhores materiais podem falhar o seu potencial sustentável.
Um outro estudo também avaliou diferentes tipos de palhinhas disponíveis no mercado para compreender quais as melhores estratégias de design para tornar estes produtos mais sustentáveis, circulares e menos persistentes no ambiente.
A investigação, conduzida por uma equipa de cientistas norte-americanos, analisou 13 palhinhas com formulações distintas, testando as suas propriedades físicas, químicas e de biodegradação em condições marinhas.
Os resultados apontam para quatro conclusões principais:
- Palhinhas com impacto climático negativo – A utilização de metano de origem antropogénica como matéria-prima para a produção de polihidroxialcanoatos (PHAs) revelou-se a única opção com potencial de aquecimento global líquido negativo.
- Eficácia limitada dos aditivos – A adição de cargas biogénicas a polímeros convencionais, como o polipropileno, mostrou ter poucos benefícios ambientais comparativamente à substituição direta por polímeros alternativos.
- Marketing enganador – Muitos rótulos e alegações de circularidade e biodegradabilidade não foram suportados pelos dados experimentais, o que pode contribuir para a má gestão e para o aumento do impacto ambiental destes produtos.
- Risco da eliminação inadequada – A eliminação de palhinhas compostáveis em aterro pode aumentar até seis vezes o seu potencial de aquecimento global, anulando vantagens importantes dos materiais biodegradáveis.
Os autores sublinham que a escolha do material certo é fundamental, já que as empresas enfrentam forte inércia para mudar de tecnologia uma vez que esta está estabelecida. Além disso, destacam a necessidade de reforçar a infraestrutura de gestão de resíduos para que as soluções compostáveis possam cumprir o seu propósito.
Apesar do foco estar nas palhinhas, os investigadores defendem que as lições aprendidas devem ser aplicadas a uma vasta gama de produtos de plástico de consumo, contribuindo para um design mais responsável e alinhado com os princípios da economia circular e da engenharia sustentável.