Primeiro projeto nacional no país asiático visa salvaguardar nove espécies de gatos selvagens através de uma abordagem integrada “One Health”
O Butão lançou o seu primeiro esforço nacional para proteger as nove espécies de felinos selvagens que habitam o país, num projeto inovador que liga a saúde das pessoas, dos animais domésticos e dos ecossistemas.
A iniciativa, denominada “Bhutan Wild Cat Health Project”, resulta de uma parceria entre a Felidae Conservation Fund, a Zywie Partners, o Departamento de Florestas e Serviços de Parques do Governo Real do Butão e a Sociedade Ecológica do Butão. O estudo, que decorrerá ao longo de 36 meses, será o mais abrangente e duradouro sobre felinos selvagens alguma vez realizado no país.

Cães de aldeia transformados em guardiões da vida selvagem
Um dos pilares do projeto é a criação da primeira equipa governamental de conservação K9 do mundo, composta por cães anteriormente errantes, agora treinados para localizar fezes de felinos selvagens. Estes cães de deteção permitirão identificar espécies como o tigre-real-de-bengala, o leopardo-das-neves, o leopardo-nublado e o gato-dourado-asiático, entre outros.
“Este projeto representa um passo histórico para o Butão, onde proteger os nossos extraordinários gatos selvagens significa também salvaguardar a saúde das pessoas, dos animais domésticos e dos ecossistemas que partilhamos”, afirmou Lungten Dorji, da Divisão de Conservação da Natureza.

Uma abordagem “One Health” para proteger todos
A abordagem “One Health” — que reconhece a interligação entre a saúde humana, animal e ambiental — orienta todas as atividades do projeto. Investigadores irão monitorizar populações de felinos em vários parques nacionais, como Jigme Dorji, Jigme Singye Wangchuck, Wangchuck Centennial e nas florestas da divisão de Thimphu, recorrendo a uma vasta rede de câmaras de armadilhagem fotográfica e a análises laboratoriais de amostras recolhidas pelos cães.
Os cientistas vão analisar as fezes para detetar vírus, parasitas, hormonas de stress e doenças frequentemente transmitidas por cães domésticos. O objetivo é identificar as zonas de maior risco de transmissão de doenças entre animais domésticos e vida selvagem, bem como potenciais focos de conflito entre comunidades e predadores.

Desafios e impacto comunitário
O aumento do número de cães vadios em zonas rurais representa uma preocupação crescente no Butão, onde estes animais fazem parte da vida quotidiana — ajudam a guardar rebanhos, proteger colheitas e acompanhar as famílias. Contudo, o seu contacto com a fauna selvagem e a expansão do turismo de natureza têm aumentado o risco de doenças zoonóticas e conflitos entre humanos e predadores.
Os resultados do estudo irão orientar campanhas de vacinação canina no âmbito da estratégia nacional de gestão da população de cães do Butão e contribuir para a investigação global sobre transmissão de doenças entre espécies. O projeto inclui ainda ações de sensibilização comunitária, envolvendo líderes religiosos, autoridades locais e escolas, para promover a coexistência pacífica entre pessoas, cães e vida selvagem.
Um modelo global de conservação
“O Butão é um dos poucos lugares do mundo onde nove espécies de gatos selvagens ainda coexistem. Ao combinar experiência internacional com liderança butanesa e uma abordagem One Health, estamos a proteger não só os felinos, mas também a saúde das pessoas, do gado e dos ecossistemas”, sublinhou Zara McDonald, bióloga e diretora executiva da Felidae Conservation Fund. “Este projeto pode servir de modelo para a conservação em todo o mundo.”
Sobre a Felidae Conservation Fund
Fundada em 2006 e sediada na Califórnia, a Felidae Conservation Fund dedica-se à proteção de felinos selvagens nos seus habitats naturais. Através de investigação científica e de uma perspetiva integrada de conservação, a organização trabalha para preservar espécies que são indicadores essenciais da saúde dos ecossistemas.