Um estudo inovador publicado na revista Scientific Reports em 2025 revela que experiências adversas nos primeiros seis meses de vida podem aumentar significativamente a agressividade e o medo nos cães adultos, e que estes efeitos variam de acordo com a raça. A investigação envolveu 4.497 cães, cujos tutores responderam a questionários sobre o historial de vida dos animais, ambiente atual e comportamento, utilizando a ferramenta Canine Behavior Assessment and Research Questionnaire (C-BARQ).

Os resultados mostraram que cães que sofreram maus-tratos, abandono ou outras experiências negativas na primeira infância apresentaram níveis mais elevados de agressividade e medo na idade adulta. Curiosamente, estes efeitos eram tão fortes ou até mais do que fatores biológicos como o sexo, esterilização ou convivência com outros cães.
Primeiros seis meses de vida: uma janela crítica
O estudo destaca que os primeiros seis meses de vida são uma fase crítica para o desenvolvimento comportamental dos cães. Durante este período, experiências adversas tiveram maior impacto em comportamentos indesejados, alinhando-se com o conceito de períodos sensíveis no desenvolvimento de personalidade. Além disso, quanto maior o número de eventos adversos vividos pelo cão, maior a probabilidade de apresentar comportamentos agressivos e medrosos.
A influência da raça
Outro achado importante do estudo é que a predisposição genética também desempenha um papel crucial. Algumas raças, como o American Eskimo Dog, American Leopard Hound e Siberian Husky, mostraram uma maior diferença de comportamento entre cães que sofreram adversidade e aqueles que não sofreram. Por outro lado, raças como Golden Retrievers e Labrador Retrievers demonstraram pouca variação, sugerindo uma maior resiliência a experiências traumáticas na primeira infância.
No que respeita ao medo, Airedale Terriers e American Eskimo Dogs destacaram-se como particularmente sensíveis à adversidade precoce, enquanto Labrador Retrievers novamente mostraram pouca diferença.
Implicações para tutores e profissionais
Este estudo reforça a importância de cuidar da saúde emocional dos cães desde os primeiros meses de vida. Identificar cães em risco devido a experiências traumáticas ou à predisposição genética pode ajudar tutores, criadores e profissionais de bem-estar animal a adotar estratégias preventivas e terapêuticas adequadas. Isso inclui programas de socialização, treino comportamental e, quando necessário, intervenção medicamentosa.
Os investigadores sublinham ainda que estes resultados têm implicações mais amplas, mostrando paralelos com a forma como experiências adversas na infância influenciam o comportamento em humanos e outros animais, reforçando o valor dos cães como modelo para estudar interações complexas entre genética e ambiente no desenvolvimento comportamental.
Conclusão
Cuidar de um cão vai muito além das necessidades físicas: garantir experiências positivas nos primeiros meses de vida e compreender a influência da raça pode ser determinante para prevenir comportamentos agressivos e medrosos. Este estudo lança luz sobre como fatores genéticos e ambientais interagem para moldar a personalidade dos nossos melhores amigos.